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EXERCÍCIOS - Exercício 304

  • (VUNESP 2018)

Sobre o ‘sobre’

De um ano pra cá, comecei a ouvir frases do tipo “não é sobre opinião, é sobre respeito” ou “não é sobre direitos, é sobre deveres”.

A primeira vez que me deparei com este novo uso do “sobre”, pensei que estavam falando “sobre” algum filme, livro ou peça de teatro. A respeito de “Superman I”, por exemplo, poderíamos dizer que “não é sobre superpoderes, é sobre amor”. Assim como “Casa de Bonecas”, do Ibsen, “não é sobre um casamento, é sobre a liberdade”. Prestando mais atenção, porém, percebi que o sentido era outro. Era o “sobre” como “ter a ver com”. Trata-se de uma tradução troncha de “ it’s not about ”, que os anglófonos usam a torto e a direito. Ou melhor, nós usamos torto, eles usam direito.

Palavras são ferramentas, chaves que se encaixam perfeitamente nas delicadas fendas dos significados. Quando a gente usa a ferramenta errada, espana o parafuso. O que aumenta meu desconforto com o “sobre” é que, nas frases em que ele é empregado, tem sempre alguém nos dando uma lição e dizendo que não entendemos lhufas do assunto. É como se eu estivesse tentando aparafusar uma estante na parede, me afastassem da tarefa e assumissem o meu lugar usando uma faca de cozinha. Ou, para ligar a imagem à origem do problema: usando uma chave inglesa.

Não quero parecer arrogante. “Não é sobre preciosismo”, eu diria, aderindo à moda, “é sobre lógica”. Há frases que fazem sentido, outras que não. Já está tão difícil nos entendermos em bom português, imagina com todo mundo usando faca em parafuso e desrosqueando porca com alicate: acabaremos por estropiar de vez a fragilíssima máquina da comunicação.

(Antônio Prata. Folha de S.Paulo . www.folha.uol.com.br. 29.10.2018. Adaptado)


Com a expressão “chave inglesa”, no terceiro parágrafo, o autor


A) defende a ideia de que a língua portuguesa dispõe de muito mais recursos de comunicação que a língua inglesa.

B) sugere que as pessoas que eventualmente empregam palavras ou frases de origem estrangeira são arrogantes.

C) frisa que há ideias que simplesmente não podem ser traduzidas do inglês para o português.

D) explicita seu ponto de vista terminantemente contra as teorias que endossam as recentes traduções de obras da língua inglesa.

E) reforça a crítica à inadequação do emprego do vocábulo “sobre” como uma tradução malfeita da construção inglesa “ it’s not about ”.


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