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EXERCÍCIOS - Exercício 102

  • (VUNESP 2018)

Recentemente, acabei me detendo num debate sobre o conceito de reputação. Antes a reputação era apenas boa ou ruim e, diante do risco de ter uma má reputação, muitos tentavam resgatá-la com o suicídio ou com crimes de honra. Naturalmente, todos desejavam ter uma boa reputação.

Mas há muito tempo o conceito de reputação deu lugar ao de notoriedade.

O que conta é ser “reconhecido” pelos próprios semelhantes, mas não no sentido do reconhecimento como estima ou prêmio, mas naquele mais banal que faz com que alguém possa dizer ao vê-lo na rua: “Olhe, é ele mesmo!”. O valor predominante é aparecer e naturalmente o meio mais seguro é a TV. E não é necessário ser um renomado economista ou um médico agraciado com o prêmio Nobel, basta confessar num programa lacrimogêneo que foi traído pelo cônjuge.

Assim, gradualmente, foi aceita a ideia de que para aparecer de modo constante e evidente era preciso fazer coisas que antigamente só garantiam uma péssima reputação. E não é que as pessoas não almejem uma boa reputação, mas é muito difícil conquistá-la, é preciso protagonizar um ato heroico, ganhar um Nobel, e estas não são coisas ao alcance de qualquer um. Mais fácil atrair interesse, melhor ainda se for mórbido, por ter ido para a cama por dinheiro com uma pessoa famosa ou por ter sido acusado de peculato. Passaram-se décadas desde que alguém teve a vida destruída por ter sido fotografado algemado.

O tema da perda da vergonha está presente em várias reflexões sobre os costumes contemporâneos.

Ora, este frenesi de aparecer (e a notoriedade a qualquer custo, embora o preço seja algo que antigamente seria a marca da vergonha) nasce da perda da vergonha ou perde-se o senso de vergonha porque o valor dominante é aparecer seja como for, ainda que o preço seja cobrir-se de vergonha? Sou mais inclinado para a última hipótese. Ser visto, ser objeto de discurso é um valor tão dominante que as pessoas estão prontas a renunciar àquilo que outrora se chamava pudor (ou sentimento zeloso da própria privacidade).

Também é sinal de falta de vergonha falar aos berros ao celular, obrigando todo mundo a tomar conhecimento das próprias questões particulares, que antigamente eram sussurradas ao ouvido. Não é que a pessoa não perceba que os outros estão ouvindo, é que inconscientemente ela quer que a ouçam, mesmo que suas histórias privadas sejam irrelevantes.

Li que não sei qual movimento eclesiástico quer retornar à confissão pública. Claro, que graça pode ter contar as pró- prias vergonhas apenas para o confessor?

(Umberto Eco. Por que só a Virgem Maria? Pape satàn aleppe : Crônicas de uma sociedade líquida. Editora Record, Rio de Janeiro: 2017. Adaptado)


A ideia de boa reputação, apresentada no início do texto, é utilizada pelo autor


A) para reforçar o ponto de vista por ele defendido de que é impossível construir uma boa imagem quando ações importantes são banalizadas pela mídia.

B) como base para o desenvolvimento de sua argumentação sobre a perda do zelo com a própria imagem numa sociedade em que o importante é aparecer.

C) a fim de mostrar como o reconhecimento é efêmero, já que uma pessoa que ganha um prêmio importante na área de medicina pode ser esquecida no dia seguinte.

D) para refutar a postura daqueles que enxergam falta de limites e descuido com a própria imagem na maneira como as pessoas se esforçam para serem vistas.

E) para demonstrar que esse conceito passou por mudanças, pois atitudes que antes melhoravam atualmente comprometem a reputação de uma pessoa.


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