PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto
- (FCC 2017)
Da morte para a vida
Um velho professor e médico cardiologista foi abordado pelo jovem aluno: − Mestre, dizem as estatísticas que é altíssima a incidência de mortes por causas cardíacas. O professor respondeu prontamente: − E do que você preferiria que as pessoas morressem? Lembrava ao discípulo, com isso, os limites do homem e da ciência, que fazem frente às aspirações ideais das criaturas, ao seu anseio de imortalidade.
Sendo inevitável, nem por isso deixa a morte de prestar algum serviço aos vivos. Não, não me refiro à morte dos monstros antropomórficos que volta e meia põem em risco nossa humanidade; falo dos corpos que continuam de alguma forma vivos nos órgãos transplantados, nas aulas de anatomia, corpos que, investigados, ajudam a esclarecer os caminhos da moléstia que os vitimou. Falo dos préstimos que os homens sabem tomar da morte.
Também no plano filosófico a morte pode surgir como estímulo para viver melhor. É o que afirmavam os velhos pensadores estoicos, quando lembravam que o bem viver é também a melhor preparação possível para a morte. Lembrarmo-nos sempre de nossa finitude é mais do que uma lição de humildade: é um convite para intensificar o sentido do tempo de que dispomos para seguir na vida. É de Sêneca esta lição: “Vivo de modo que cada dia seja para mim a vida toda; e não me apego a ele como se fosse o último, mas o contemplo como se pudesse também ser o último ”.
(Anastácio Fontes Ribeiro, inédito )
De acordo com os estoicos, cuja posição diante da morte está resumida na citação de Sêneca, deve-se viver
A) de modo a desgarrar-se da ideia de morrer, para que cada dia seja aproveitado como se propiciasse uma abertura para a eternidade.
B) como se cada dia fosse uma preparação para o que haverá de melhor nos dias seguintes, em vez de se afligir com a possibilidade de morrer.
C) evitando alimentar toda e qualquer aspiração a um futuro melhor, assumindo-se com coragem e resignação as provações do cotidiano.
D) desapegando-se do sentido mesmo da vida, o que significa prepararmo-nos para morrer com a dignidade de quem sabe ser humilde.
E) intensificando-se o sentido de cada dia, de modo que cada experiência cotidiana seja ao mesmo tempo uma totalidade e uma ultimação.
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