PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto
- (PR-4 UFRJ 2018)
TEXTO 1
As Caravanas
Chico Buarque | 2017
É um dia de real grandeza, tudo azul
Um mar turqueza à la Istambul enchendo os olhos
Um sol de torrar os miolos
Quando pinta em Copacabana
A caravana do Arará 1 — do Caxangá, da Chatuba
A caravana do Irajá, o comboio da Penha
Não há barreira que retenha esses estranhos
Suburbanos tipo muçulmanos do Jacarezinho
A caminho do Jardim de Alá — é o bicho,
é o buchicho é a charanga
Diz que malocam seus facões e adagas
Em sungas estufadas e calções disformes
Diz que eles têm picas enormes
E seus sacos são granadas
Lá das quebradas da Maré
Com negros torsos nus deixam em polvorosa
A gente ordeira e virtuosa que apela
Pra polícia despachar de volta
O populacho pra favela
Ou pra Benguela, ou pra Guiné
Sol, a culpa deve ser do sol
Que bate na moleira, o sol
Que estoura as veias, o suor
Que embaça os olhos e a razão
E essa zoeira dentro da prisão
Crioulos empilhados no porão
De caravelas no alto mar
Tem que bater, tem que matar, engrossa a gritaria
Filha do medo, a raiva é mãe da covardia
Ou doido sou eu que escuto vozes
Não há gente tão insana
Nem caravana do Arará
1 Parque Arará é uma comunidade popular localizada no bairro carioca de Benfica.
Conforme a perspectiva do eu poético de As Caravanas, o verso “Não há barreira que retenha esses estranhos” expressa:
A) o medo normal que a classe média da zona sul do Rio tem dos suburbanos negros e pobres.
B) o sentimento preconceituoso e segregacionista de elites dominantes a respeito da periferia urbana e social.
C) a justa preocupação do cidadão comum e esclarecido com a onda de violência crescente na cidade.
D) o estranhamento natural que a superlotação das praias cariocas nos fins de semana provoca nos moradores e turistas que circulam na orla.
E) a frustração dos moradores da zona sul com o fracasso das tentativas de conter os suburbanos na periferia.
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