PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto
- (COPESE - UFT 2018)
Leio o excerto da entrevista com o sociólogo Zygmunt Bauman,
concedida à revista ISTOÉ, e responda a questão.
ISTOÉ – O que caracteriza a “modernidade líquida”?
Zygmunt Bauman – Líquidos mudam de forma muito
rapidamente, sob a menor pressão. Na verdade, são incapazes
de manter a mesma forma por muito tempo. No atual estágio
“líquido” da modernidade, os líquidos são deliberadamente
impedidos de se solidificarem. A temperatura elevada — ou
seja, o impulso de transgredir, de substituir, de acelerar a
circulação de mercadorias rentáveis — não dá ao fluxo uma
oportunidade de abrandar, nem o tempo necessário para
condensar e solidificar-se em formas estáveis, com uma maior
expectativa de vida.
ISTOÉ – As pessoas estão conscientes dessa situação?
Zygmunt Bauman – Acredito que todos estamos cientes disso,
num grau ou outro. Pelo menos, às vezes, quando uma
catástrofe, natural ou provocada pelo homem, torna impossível
ignorar as falhas. Portanto, não é uma questão de “abrir os
olhos”. O verdadeiro problema é: quem é capaz de fazer o que
deve ser feito para evitar o desastre que já podemos prever? O
problema não é a nossa falta de conhecimento, mas a falta de
um agente capaz de fazer o que o conhecimento nos diz ser
necessário fazer, e urgentemente. Por exemplo: estamos todos
conscientes das consequências apocalípticas do aquecimento
do planeta. E todos estamos conscientes de que os recursos
planetários serão incapazes de sustentar a nossa filosofia e
prática de “crescimento econômico infinito” e de crescimento
infinito do consumo. Sabemos que esses recursos estão
rapidamente se aproximando de seu esgotamento. Estamos
conscientes — mas e daí? Há poucos (ou nenhum) sinais de
que, de própria vontade, estamos caminhando para mudar as
formas de vida que estão na origem de todos esses problemas.
ISTOÉ – E o que o senhor chama de “amor líquido”?
Zygmunt Bauman – Amor líquido é um amor “até segundo
aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo:
mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os
substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O
amor com um espectro de eliminação imediata e, assim,
também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na
sua forma “líquida”, o amor tenta substituir a qualidade por
quantidade — mas isso nunca pode ser feito, como seus
praticantes mais cedo ou mais tarde acabam percebendo. É
bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas
um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa
vontade.
Fonte : BAUMAN, Zygmunt. In: Revista ISTOÉ. Disponível em: <https://istoe.com.br/102755_VIVEMOS+TEMPOS+LIQUIDOS+NADA+E+PARA+DURAR+/>. Acesso em: 12 fev. 2018 (fragmento adaptado).
A revista pergunta ao sociólogo se as pessoas estão conscientes da situação mundial e Bauman responde que:
A) as pessoas estão cientes da situação e todas estão mobilizadas para promoverem mudanças rápidas na sua filosofia de vida e de consumo.
B) as pessoas estão incomodadas com as transformações climáticas, mas elas não querem abdicar de seu modo de vida consumista, já que acreditam que os recursos naturais são infindáveis e se renovam a cada ciclo climático.
C) as pessoas estão conscientes de que os recursos naturais do planeta podem acabar e a filosofia consumista pode sofrer as consequências desse esgotamento.
D) as pessoas acreditam que os recursos naturais são intermináveis, por isso, preferem viver uma prática de crescimento econômico ligado ao consumo do que tomar qualquer atitude para transformar seu entorno.
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