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PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto


EXERCÍCIOS - Exercício 139

  • (INSTITUTO AOCP 2018)

Texto II

[...] Saiu da casa da cartomante aos tropeços e parou no beco escurecido pelo crepúsculo — crepúsculo que é hora de ninguém. Mas ela de olhos ofuscados como se o último final da tarde fosse mancha de sangue e ouro quase negro. Tanta riqueza de atmosfera a recebeu e o primeiro esgar da noite que, sim, sim, era funda e faustosa. Macabéa ficou um pouco aturdida sem saber se atravessaria a rua pois sua vida já estava mudada. E mudada por palavras — desde Moisés se sabe que a palavra é divina. Até para atravessar a rua ela já era outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentira tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma, isso significava uma perda que valia por um ganho. Assim como havia sentença de morte, a cartomante lhe decretara sentença de vida. Tudo de repente era muito e muito e tão amplo que ela sentiu vontade de chorar. Mas não chorou: seus olhos faiscavam como o sol que morria. Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez! E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a — e neste mesmo instante em algum único lugar do mundo um cavalo como resposta empinou-se em gargalhada de relincho.

Macabéa ao cair ainda teve tempo de ver, antes que o carro fugisse, que já começavam a ser cumpridas as predições de madama Carlota, pois o carro era de alto luxo. Sua queda não era nada, pensou ela, apenas um empurrão. Batera com a cabeça na quina da calçada e ficara caída, a cara mansamente voltada para a sarjeta. E da cabeça um fio de sangue inesperadamente vermelho e rico. O que queria dizer que apesar de tudo ela pertencia a uma resistente raça não teimosa que um dia vai talvez reivindicar o direito ao grito. [...]

(Excerto adaptado e extraído da obra “A Hora da Estrela”. LISPECTOR, Clarice. 23ª edição. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.)


De acordo com o texto II, assinale a alternativa correta.


A) Alguns elementos textuais que compõem a descrição da cena formam um campo semântico voltado à melancolia e ao findar da vida, como o “crepúsculo”, o “final da tarde”, a “mancha de sangue” e o “sol que morria”.

B) O uso de verbos no presente do subjuntivo dá o tom profético ao texto, que se constrói a partir de uma situação hipotética, de um desejo da personagem. Um exemplo desse uso está em “[...] Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentira tamanho desespero.”.

C) O excerto “Batera com a cabeça na quina da calçada e ficara caída, a cara mansamente voltada para a sarjeta.” delineia um tratamento humano dado à personagem, haja vista a importância de suas relações sociais, tanto com a cartomante, quanto com o motorista do carro de luxo.

D) Todos os travessões utilizados no excerto servem para inserir comentários do narrador de tom explicativo, a fim de elucidar e amplificar as percepções do leitor diante da descrição da cena narrada.

E) O seguinte excerto “[...] é agora é já, chegou a minha vez!” representa a fala de Macabéa ao ver a Mercedes chegando em sua direção.


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