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PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (14)


EXERCÍCIOS - Exercício 296

  • (VUNESP 2019)

Leia o texto, para responder a questão.

O hacker é essencial ao sistema

Os incidentes planetários na internet não devem causar espanto. Todos sabem que quanto mais avançada é uma tecnologia, melhor ela se presta ao atentado.

O automóvel que dirijo agora faz coisas que o velho carro com o qual obtive minha carteira nem sequer sonhava, mas, se tivesse começado a dirigir então com meu carro de hoje, já teria me arrebentado em alguma esquina. Por sorte, cresci com meu carro, adaptando-me pouco a pouco ao aumento de sua potência.

Com o computador, ao contrário, ainda nem tive tempo de aprender todas as possibilidades da máquina e do programa quando modelos mais complexos chegam ao mercado. Tampouco posso continuar com o velho computador, que talvez fosse suficiente para mim, porque algumas melhorias indispensáveis só rodam nas novas máquinas. O mesmo acontece com os celulares, gravadores, palm tops e com todo o digital em geral.

Esse drama não atinge apenas o usuário comum, mas também os que precisam controlar o fluxo telemático, inclusive agentes do FBI, bancos e até o Pentágono.

Quem é que tem 24 horas por dia para entender as novas possibilidades do próprio meio? O hacker, que é uma espécie de anacoreta, de eremita do deserto que dedica todas as horas de seu dia à meditação (eletrônica). Sendo os únicos especialistas totais de uma inovação em ritmo insustentável, eles têm tempo de entender tudo o que podem fazer com a máquina e a rede, mas não de elaborar uma nova filosofia e de estudar suas aplicações positivas, de modo que se dedicam à única ação imediata que sua desumana competência permite: desviar, bagunçar, desestabilizar o sistema global.

Nesta ação, é possível que muitos deles pensem que atuam no “espírito de Seattle”*, ou seja, a oposição ao novo Moloch**. Na verdade, acabam por ser os melhores colaboradores do sistema, pois para neutralizá-los é preciso inovar mais ainda e com maior rapidez. É um círculo diabólico, no qual o contestador potencializa aquilo que acredita estar destruindo.

(Umberto Eco, Pape Satàn Aleppe : crônicas de uma sociedade líquida. Adaptado)

* Referência a protestos contra a globalização e o capitalismo, ocorridas em Seattle em 1999.

** Moloch, divindade que exigia sacrifícios humanos.


A frase do autor que aponta uma contradição associada à atividade do hacker é:


A) É um círculo diabólico, no qual o contestador potencializa aquilo que acredita estar destruindo.

B) O hacker, que é uma espécie de anacoreta, de eremita do deserto que dedica todas as horas de seu dia à meditação (eletrônica).

C) Sendo os únicos especialistas totais de uma inovação em ritmo insustentável, eles têm tempo de entender tudo o que podem fazer com a máquina e a rede...

D) ... se dedicam à única ação imediata que sua desumana competência permite: desviar, bagunçar, desestabilizar o sistema global.

E) Nesta ação, é possível que muitos deles pensem que atuam no “espírito de Seattle”, ou seja, a oposição ao novo Moloch.


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