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PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (14)


EXERCÍCIOS - Exercício 11

  • (VUNESP 2019)

Estado de coma

1902 – Subitamente – nenhuma doença antes, nenhuma febre, nenhum golpe na cabeça, nenhum desgosto – o menino Jorge Henrique Kuntz, de treze anos, residente no bairro da Floresta, em Porto Alegre, entra em coma. Ao menos este é o diagnóstico que formula o Doutor Schultz, médico da família, perplexo diante do estranho caso desse rapazinho que, nunca tendo tido uma doença grave, deitou-se e não mais acordou, apesar dos gritos, das súplicas, das cautelosas picadas de alfinete. É coma, diz o médico, e a família recusa-se a acreditar: o rosto rubicundo, o leve sorriso, a respiração tranquila – isto é coma? Isto é coma, doutor? – pergunta indignado Ignacio José Kuntz, marceneiro e faz-tudo, pai do menino. A mãe, Augusta Joaquina Kuntz, não pergunta nada, não diz nada; chora, abraçada aos outros filhos: as gêmeas, Suzana e Marlene, dois anos mais velhas que Jorge Henrique; e Ernesto Carlos, o caçula. O médico, confuso, apanha a maleta e se retira.

1938 – Morre o Doutor Schultz. Encontram entre seus papéis um caderno contendo uma descrição detalhada do caso de Jorge Henrique. As inúmeras interrogações dão prova da angústia do velho médico: até o fim, pesquisou, sem êxito, um diagnóstico.

1944 – Augusta Joaquina completa setenta e cinco anos. As vizinhas querem homenageá-la com uma festa, que ela recusa: não vê motivos para celebrações. Prefere ficar só, com seu filho. É que vê a morte se aproximar.

Vê a morte se aproximar e nada pode fazer. Mas não se preocupa: há meses vê, junto à cama de Jorge Henrique, um vulto de contornos indistintos, envolto numa aura de suave esplendor. É a este ser, ao anjo da guarda, que confiará o seu filho quando enfim partir.

Uma madrugada acorda sufocada, estertorando; é, reconhece, o velho coração que fraqueja. Soergue-se no catre, volta os olhos arregalados para o filho.

– Filho!

Não consegue levantar-se. Pega os cabelos dele com as mãos, trêmulas, leva-os ao rosto. Filho, murmura, vou para o céu, vou pedir por ti...

Morre.

Não fosse isto – a morte – teria visto Jorge Henrique abrir os olhos, sorrir, espreguiçar-se, dizer numa vozinha fraca de nenê: ai, gente, dormi um bocado.

(Moacyr Scliar, Os melhores contos . Adaptado)


O fato gerador da narrativa inicial evidencia que


A) Jorge Henrique gozava de plena saúde quando caiu, de uma hora para outra, em um coma que foi exaustivamente investigado pelo Doutor Schultz durante a vida do profissional.

B) a família Kuntz chamou o Doutor Schultz porque havia fortes indícios de que Jorge Henrique entraria em coma, e a mãe estava profundamente preocupada com a saúde dos demais filhos.

C) o diagnóstico do Doutor Schultz foi dado com muita tranquilidade, uma vez que o profissional pudera avaliar o menino para além dos sinais mais evidentes, buscando as causas ocultas.

D) a família contestou o diagnóstico do Doutor Schultz, que saiu da casa do paciente bastante confuso com o que acontecera, sem, porém, estar disposto a iniciar uma análise melhor do caso.

E) o diagnóstico do médico foi um expediente para acalmar a situação da família que, exasperada, gritava e suplicava ao profissional uma forma de prontamente restabelecer Jorge Henrique.


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