PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (14)
- (VUNESP 2019)
Dilemas do teletrabalho
Uma questão clássica das ciências humanas, debatida ainda hoje, consiste em saber se o progresso tecnológico ajuda a satisfazer as necessidades sociais ou apenas aprofunda a alienação humana. Em poucas palavras, a tecnologia serve para nos emancipar ou nos explorar? Muitos analistas veem a flexibilidade do trabalho como aspecto positivo do atual desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. Há, porém, aqueles que enfatizam como aspecto negativo o desemprego estrutural produzido pelos avanços da atual revolução da internet das coisas e da manufatura complexa do setor de serviços e na indústria.
Diante desse dissenso, como interpretar o inegável crescimento do número de profissionais em home office , isto é, de pessoas trabalhando fora da sede das empresas que as contratam? Se no Brasil a tendência é recente, concentrando-se, sobretudo, em empresas prestadoras de serviços tecnológicos ligadas ao mundo virtual, nos Estados Unidos estimativas indicam que, independentemente do setor econômico, 40% de todo o trabalho de escritório já é realizado em home office .
Em primeiro lugar, é importante sublinhar que a tecnologia não é em si mesma exploradora ou emancipadora. Aqui, as questões-chave são o modo como o progresso tecnológico é apropriado pelas empresas e como ele é regulado pela sociedade.
Da perspectiva do processo de trabalho, o home office apresenta, de fato, uma face muito sedutora. Afinal, vivendo em uma cidade como São Paulo, por exemplo, quem não gostaria de trabalhar em casa, evitando o trânsito e os perigos ligados à circulação nos espaços públicos? Além disso, o trabalho em home office satisfaz com mais frequência a parcela feminina da força de trabalho, que percebe na flexibilização da jornada uma maneira de equilibrar demandas profissionais e exigências domésticas.
No entanto, cabe observar que muitos efeitos deletérios para os profissionais em home office têm sido registrados por sociólogos do trabalho. Na medida em que esse trabalho é regulado economicamente pelo sistema de administração por metas, e considerando que as empresas tendem a endurecer permanentemente seus objetivos, verifica-se certa implosão das barreiras entre tempo livre e tempo de trabalho. Ou seja, todo o tempo da vida de quem está em home office transforma-se em trabalho.
Aqui, não se trata mais de falar em flexibilização da jornada de trabalho, mas em ampliação de uma jornada que devora os finais de semana e não diferencia o dia da noite.
(Ruy Braga. Revista E . mai. 2019. Adaptado)
O autor do texto discute a questão
A) do contraste que representa a falta de investimento em flexibilização do trabalho no Brasil diante do avanço das tecnologias de comunicação.
B) da falta de consenso entre especialistas quanto à necessidade ou não de ampliação do comércio e da prestação de serviços via internet.
C) da urgência para a economia brasileira do desenvolvimento da tecnologia de comunicação necessária para a expansão do trabalho em home office .
D) de como a expansão da modalidade de trabalho realizado fora das empresas tem sido determinante para a precarização de determinados serviços.
E) das possíveis consequências sociais para o trabalhador da realização de atividades em home office , no contexto de expansão desse tipo de emprego.
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