PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (6)
- (FCC 2014)
Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão.
O criador da mais conhecida e celebrada canção sertaneja, Tristeza do Jeca (1918), não era, como se poderia esperar, um sofredor habitante do campo, mas o dentista, escrivão de polícia e dono de loja Angelino Oliveira. Gravada por “caipiras” e “sertanejos”, nos “bons tempos do cururu autêntico”, assim como nos “tempos modernos da música ‘americanizada’ dos rodeios”, Tristeza do Jeca é o grande exemplo da notável, embora pouco conhecida, fluidez que marca a transição entre os meios rural e urbano, pelo menos em termos de música brasileira.
Num tempo em que homem só cantava em tom maior e voz grave, o Jeca surge humilde e sem vergonha alguma da sua “falta de masculinidade”, choroso, melancólico, lamentando não poder voltar ao passado e, assim, “cada toada representa uma saudade”. O Jeca de Oliveira não se interessa pelo meio rural da miséria, das catástrofes naturais, mas pelo íntimo e sentimental, e foi nesse seu tom que a música, caipira ou sertaneja, ganhou forma.
“A canção popular conserva profunda nostalgia da roça. Moderna, sofisticada e citadina, essa música foi e é igualmente roceira, matuta, acanhada, rústica e sem trato com a área urbana, de tal forma que, em todas essas composições, haja sempre a voz exemplar do migrante, a qual se faz ouvir para registrar uma situação de desenraizamento, de dependência e falta”, analisa a cientista política Heloísa Starling.
Acrescenta o antropólogo Allan de Paula Oliveira: “foi entre 1902 e 1960 que a música sertaneja surgiu como um campo específico no interior da MPB. Mas, se num período inicial, até 1930, ‘sertanejo’ indicava indistintamente as músicas produzidas no interior do país, tendo como referência o Nordeste, a partir dos anos de 1930, 'sertanejo' passou a significar o caipira do Centro-Sul. E, pouco mais tarde, de São Paulo. Assim, se Jararaca e Ratinho, ícones da passagem do
sertanejo nordestino para o ‘caipira’, trabalhavam no Rio, as duplas dos anos 1940, como Tonico e Tinoco, trabalhariam em São Paulo”.
(Adaptado de: HAAG, Carlos. “Saudades do Jeca no século XXI”. In: Revista Fapesp, outubro de 2009, p. 80-5.)
Depreende-se do texto que o autor
A) esclarece ao leitor, a partir do caso exemplar da música Tristeza do Jeca , o ambiente de crítica social relativo aos problemas da roça, permeado pelos sentimentos de melancolia e saudade.
B) apresenta diferentes opiniões sobre a música ser- taneja, de maneira a mostrar como ela está presente nas mais diversas manifestações da MPB por sua versatilidade em tratar igualmente dos problemas da cidade e do campo.
C) contrapõe a opinião de dois estudiosos sobre música sertaneja, chamando a atenção do leitor para seu aspecto mais característico, que é a profunda relação entre compositor e música, sobretudo nas com- posições antigas.
D) procura refletir sobre a singularidade da música Tristeza do Jeca em relação às composições de sua época, de maneira a traçar um perfil da música sertaneja, caracterizada, entre outros, pelo sentimento de nostalgia.
E) critica a particularização da música caipira, antes produzida e ouvida também no Nordeste, já que sua principal característica é de ordem sentimental, o que não deveria restringi-la ao contexto paulista.
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