PortuguêsInterpretação de textos (2)
- (CPCON 2017)
A leitura do Texto 11 serve como base para responder à questão.
TEXTO 11
Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho.
Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes a composição tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro .Eu traçaria o plano, introduziria na história rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o meu nome na capa.
[...]
O resultado foi um desastre. Quinze dias depois do nosso primeiro encontro, o redator do Cruzeiro apresentou-me dois capítulos datilografados, tão cheios de besteiras que me zanguei:
– Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota.
Há lá ninguém que fale dessa forma!
Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequena vaidade e replicou amuado que um artista não pode escrever como fala.
Não pode? Perguntei com assombro. E por quê?
Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode.
– Foi assim que sempre se fez. Aliteratura é a literatura, seu Paulo. Agente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia.
(RAMOS, Graciliano. São Bernardo . 80. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 9)
O fragmento acima (Texto 11) foi retirado do capítulo 1 de “São Bernardo”, romance de Graciliano Ramos. De acordo com o fragmento, podemos concluir que
A) a partir da fala do narrador, percebe-se uma visão de mundo não mercadológica, no que se refere à construção da obra literária.
B) não obstante sua proposta pecuniária, e a contribuição coletiva dada à elaboração do livro, a obra foi um sucesso.
C) o narrador defende um modelo de linguagem que eleve a obra literária à condição de arte, já que a mesma deve ser construída de forma a agradar o público.
D) a personagem Azevedo Gondim expressa a mesma visão do narrador, no que se refere à linguagem que deve ser empregada na construção da obra literária, quando afirma “Aliteratura é a literatura”.
E) ao afirmar que a construção do livro seria feita pela divisão do trabalho, o narrador mostra sua proposta capitalista ao dividir as tarefas, atribuindo, espertamente a autoria da obra para si.
Próximo:
EXERCÍCIOS - Exercício 359
Vamos para o Anterior: Exercício 357
Tente Este: Exercício 471
Primeiro: Exercício 1
VOLTAR ao índice: Português