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PortuguêsInterpretação de textos


EXERCÍCIOS - Exercício 352

  • (VUNESP 2018)

Sobre o ‘sobre’

De um ano pra cá, comecei a ouvir frases do tipo “não é sobre opinião, é sobre respeito” ou “não é sobre direitos, é sobre deveres”.

A primeira vez que me deparei com este novo uso do “sobre”, pensei que estavam falando “sobre” algum filme, livro ou peça de teatro. A respeito de “Superman I”, por exemplo, poderíamos dizer que “não é sobre superpoderes, é sobre amor”. Assim como “Casa de Bonecas”, do Ibsen, “não é sobre um casamento, é sobre a liberdade”. Prestando mais atenção, porém, percebi que o sentido era outro. Era o “sobre” como “ter a ver com”. Trata-se de uma tradução troncha de “ it’s not about ”, que os anglófonos usam a torto e a direito. Ou melhor, nós usamos torto, eles usam direito.

Palavras são ferramentas, chaves que se encaixam perfeitamente nas delicadas fendas dos significados. Quando a gente usa a ferramenta errada, espana o parafuso. O que aumenta meu desconforto com o “sobre” é que, nas frases em que ele é empregado, tem sempre alguém nos dando uma lição e dizendo que não entendemos lhufas do assunto. É como se eu estivesse tentando aparafusar uma estante na parede, me afastassem da tarefa e assumissem o meu lugar usando uma faca de cozinha. Ou, para ligar a imagem à origem do problema: usando uma chave inglesa.

Não quero parecer arrogante. “Não é sobre preciosismo”, eu diria, aderindo à moda, “é sobre lógica”. Há frases que fazem sentido, outras que não. Já está tão difícil nos entendermos em bom português, imagina com todo mundo usando faca em parafuso e desrosqueando porca com alicate: acabaremos por estropiar de vez a fragilíssima máquina da comunicação.

(Antônio Prata. Folha de S.Paulo . www.folha.uol.com.br. 29.10.2018. Adaptado)


Um dos problemas que o autor aponta no uso de “sobre” em frases do tipo “não é sobre direitos, é sobre deveres” está relacionado ao fato de que esse uso


A) revela pouco refinamento e afeta a melodia da língua.

B) impede uma compreensão profunda do preciosismo da língua.

C) acarreta desvio de sentido e prejudica a compreensão.

D) compromete o purismo necessário à preservação do idioma.

E) é elitista, pois se restringe a falantes de uma língua estrangeira.


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