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PortuguêsInterpretação de textos (2)


EXERCÍCIOS - Exercício 36

  • (FCC 2017)

Hannah Arendt, preocupada com a situação da arte numa sociedade dominada pela cultura de massas, explica que, embora cultura e arte estejam inter-relacionadas, são coisas diversas. A palavra “cultura”, desde sua origem romana, implica criação e preservação da natureza e das obras humanas. As obras de arte são, para ela, a expressão mais alta da cultura, “aqueles objetos que toda a civilização deixa atrás de si como quintessência e o testemunho duradouro do espírito que a animou”. A cultura implica “uma atitude de carinhoso cuidado”,

e uma sociedade de consumo não pode absolutamente saber como cuidar de um mundo e das coisas que pertencem de modo exclusivo ao espaço das aparências mundanas, visto que sua atitude central ante todos os objetos, a atitude de consumo, condena à ruína tudo o que toca.

Diz a pensadora, referindo-se à sociedade de massas do século XX: “A sociedade de massas [...] não precisa de cultura, mas de diversão, e os produtos oferecidos pela indústria de diversões são com efeito consumidos pela sociedade exatamente como quaisquer outros bens de consumo”. Os produtos dessa indústria de diversões são perecíveis, portanto precisam ser renovados.

Nessa situação premente, os que produzem para os meios de comunicação de  massa esgaravatam toda a gama da cultura passada e presente na ânsia de encontrar material aproveitável. Esse material, além do mais, não pode ser oferecido tal qual é; [...] deve ser preparado para consumo fácil .

Essas considerações de Arendt têm-se mostrado absolutamente justas, com o passar das décadas e os avanços das tecnologias de comunicação. A literatura, como forma de arte, tem sofrido os efeitos da nova situação. O sonho dos escritores modernistas era que a massa comesse o “biscoito fino” por eles fabricado. Infelizmente, a massa tem preferido os cookies industrializados.

Para que a literatura chegue ao grande público, promovem-se eventos literários (salões do livro, festas de premiação), nos quais autores e obras são apresentados como espetáculo. Os objetos desses eventos são, sem dúvida, legítimos e justificados. Entretanto, o público numeroso que frequenta esses eventos parece incluir menos leitores de livros do que meros espectadores e caçadores de autógrafos .

Os escritores de hoje têm uma visibilidade pessoal maior do que em épocas anteriores porque são incluídos na categoria de “celebridades”, e os mais “midiáticos” têm mais chance de vender livros, independentemente do valor de suas obras. Ao mesmo tempo, nos debates teóricos, assistimos à defesa da “literatura de entretenimento”, contra as exigências daqueles que ainda têm uma concepção mais alta da literatura. Estes são chamados de conservadores e elitistas. Ora, a conservação é uma atitude inerente aos conceitos de cultura, arte e de educação. Conservação não como imobilismo e fechamento ao novo, mas como conhecimento da tradição sem a qual não se pode avançar .

Obs.: Hannah Arendt (1906-1975), filósofa alemã, é uma das raras vozes femininas de destaque na filosofia do século XX.

(Adaptado de: PERRONE-MOISÉS, Leyla. A literatura na cultura contemporânea. Mutações da literatura no século XXI, São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 31 a 33)


Afirma-se com correção:


A) Perrone-Moisés transcreve palavras de Hannah Arendt para dar consistência ao tópico central de seu texto, a demonstração de que a pensadora vem tendo suas ideias comprovadas ao longo das décadas.

B) O emprego das aspas em “ cultura ” sinaliza o mesmo que o fazem as aspas em “ aqueles objetos [...] espírito que a animou ”: indicam que as palavras são de Arendt, trazidas ao texto por meio do discurso indireto, pois nenhuma das falas é introduzida por verbo dicendi .

C) Para Arendt, a relação entre “cultura” e “obras de arte” é de vinculação: as segundas, parte constituinte da primeira, ocupam o espaço estreitado da extremidade superior de uma pirâmide em que estão dispostas, em ordem crescente de valor, as obras humanas.

D) A expressão carinhoso cuidado contém redundância, pois “carinho” é traço de sentido constituinte da palavra “cuidado”; o pleonasmo é vicioso.

E) Substituindo a formulação destacada em Hannah Arendt [...] explica que, embora cultura e arte estejam inter-relacionadas, são coisas diversas por “que cultura e arte estão inter-relacionadas na mesma medida em que são coisas diversas”, não haveria prejuízo da clareza e do sentido originais.


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