PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (7)
- (UNIRIO 2012)
Texto 2
A escrava Isaura
Bernardo Guimarães
Malvina aproximou-se de manso e sem ser pressentida para junto da cantora, colocando-se por detrás dela esperou que terminasse a última copla.
-- Isaura!... disse ela pousando de leve a delicada mãozinha sobre o ombro da cantora.
-- Ah! é a senhora?! - respondeu Isaura voltando-se sobressaltada.
-- Não sabia que estava aí me escutando.
-- Pois que tem isso?.., continua a cantar... tens a voz tão bonita!... mas eu antes quisera que cantasses outra coisa; por que é que você gosta tanto dessa cantiga tão triste, que você aprendeu não sei onde?...
-- Gosto dela, porque acho-a bonita e porque... ah! não devo falar...
-- Fala, Isaura. Já não te disse que nada me deves esconder, e nada recear de mim?...
-- Porque me faz lembrar de minha mãe, que eu não conheci, coitada!... Mas se a senhora não gosta dessa cantiga, não a cantarei mais. Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que és maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de senhores bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria inveja a muita gente livre. Gozas da estima de teus senhores. Deram-te uma educação, como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que eu conheço. És formosa, e tens uma cor linda, que ninguém dirá que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano. Bem sabes quanto minha boa sogra antes de expirar te recomendava a mim e a meu marido. Hei de respeitar sempre as recomendações daquela santa mulher, e tu bem vês, sou mais tua amiga do que tua senhora. Oh! não; não cabe em tua boca essa cantiga lastimosa, que tanto gostas de cantar. -- Não quero, -- continuou em tom de branda repreensão, -- não quero que a cantes mais, ouviste, Isaura?... se não, fecho-te o meu piano.
-- Mas, senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais do que uma simples escrava? Essa educação, que me deram, e essa beleza, que tanto me gabam, de que me servem?... são trastes de luxo colocados na senzala do africano. A senzala nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala.
-- Queixas-te da tua sorte, Isaura?...
-- Eu não, senhora; não tenho motivo... o que quero dizer com isto é que, apesar de todos esses dotes e vantagens, que me atribuem, sei conhecer o meu lugar.
Fonte: GUIMARÃES, Bernardo. A Escrava Isaura . [1ª ed. 1875]. Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
És formosa, e tens uma cor linda, que ninguém dirá que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano. [Texto 2]
A fala de Malvina expressa a reprovável mentalidade da época, que parte de um ponto de vista branco e europeu, repleta, portanto, de um preconceito.
O resultado histórico desse preconceito pode ser visto no seguinte fragmento do Texto 3:
A) Sancionada em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea foi responsável pela libertação de cerca de um milhão de escravos ainda existentes no País.
B) A primeira lei que busca fazer com que o Estado brasileiro inicie a longa caminhada para a construção da igualdade de oportunidades entre negros e não negros só veio a ser sancionada, em 2010, depois de dez anos de tramitação.
C) Representou a longa campanha abolicionista de mais de 380 anos de lutas.
D) Ressalte-se que não há correspondência na apropriação dos bens econômicos e culturais por parte dos descendentes de africanos na proporção de sua contribuição para o País.
E) O Supremo Tribunal Federal foi instado a decidir sobre a adoção de cotas para pretos e pardos no ensino superior (...)
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