PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (14)
- (GANZAROLI 2019)
LEIA O TEXTO 02 PARA RESPONDER À QUESTÃO.
TEXTO 02
Rodrigo Ratier: Vamos repensar a noção de bom aluno?
Quando reforçamos apenas a disciplina e a obediência, estamos sufocando
a atitude crítica que queremos obter
Eles estão sempre lá, atentos ao que você diz, prontos para responder o que você pergunta. Mãos levantadas, se
voluntariam para ir à lousa resolver exercícios. Com indisfarçável orgulho, quase nunca erram na interpretação de texto. É
verdade que monopolizam a participação, irritando - às vezes, acomodando - o restante da classe. Mas, quando cedemos
a palavra à turma, ela costuma ser exclusividade desse grupo que nos acostumamos a classificar como “os bons alunos”.
É confortável ter esse tipo de estudante em sala. Eles não reclamam, não dão trabalho, concordam com o que
você faz e só querem agradar. Mas autores clássicos da Educação têm uma opinião diferente sobre essa turma. Para o
sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), não se trata de bons alunos, mas de alunos dóceis. Bourdieu entende a
docilidade como negativa, algo como uma disciplina submissa. Alunos dóceis são assim chamados porque aprenderam a
desempenhar o papel que os docentes e a escola esperam deles: ordeiros, comportados e estudiosos. Como essas
geralmente são as características mais valorizadas pelos professores, esses estudantes acabam recompensados com
boas notas. O que não quer dizer que tenham sido bem formados...
“A verdadeira Educação cria cidadãos indóceis e difíceis de governar.” Por anos, tive essa frase do filósofo
francês Nicolas de Condorcet (1743-1794) colada na borda do meu monitor. Queria algo que me lembrasse desse papel
disruptivo da Educação. Era um recado para o Rodrigo professor, mas também para o Rodrigo estudante. Por muito tempo
fui um aluno dócil, certinho e querido pelos professores. Acho que me desenvolvi muito mais quando consegui me tornar
mais questionador. É uma conquista agridoce, incômoda. Na escola e no trabalho, arranjei uma dose maior de confusão. Mas, com o tempo, creio que me tornei mais útil - necessário, no melhor dos casos - aos grupos em que atuava.
Trata-se, também, de uma busca por uma prática mais coerente com o discurso. Valorizamos os “estudantes
críticos”, mas o que é a crítica senão o questionamento, a não aceitação de ordens e argumentos sem justificativas e
evidências? Ocorre que, muitas vezes, repreendemos o impulso questionador dos alunos, identificando neles “rebeldia” ou
“desrespeito”. De fato, muitas vezes as falas de crianças e jovens são agressivas, mas penso que nossa tarefa é ajudá-los
a encontrar o tom da divergência positiva em vez de simplesmente falar “não é assim, seja obediente que você vai se dar
bem” - isso é exatamente o que estamos dizendo ao reforçar apenas os comportamentos dóceis. No fundo, é uma
discussão sobre o tipo de sociedade que queremos para o futuro. Há quem defenda que o mundo será um lugar melhor
com mais pessoas dizendo “sim, senhor”. Eu prefiro um planeta em que as palavras de ordem sejam “peraí... por quê?”. E
você?
Rodrigo Ratier é repórter especial de NOVA ESCOLA e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP)
Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/12168/vamos-repensar-a-nocao-de-bom-aluno> . Acesso em 25
mai.2019.
É possível inferir pela leitura do texto:
A) que o grupo classificado como “os bons alunos” são críticos e pensantes.
B) que “bons alunos” são o tipo de sociedade que queremos.
C) que quando criamos esse grupo classificado como “os bons alunos”, acostumados com a disciplina e a obedecia reprimimos a atitude critica que almejamos desenvolver.
D) que o grupo classificado como “os bons alunos” são bem formados.
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