PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (26)
- (FCC 2022)
Atenção : Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
Vocação e ambição
Machado de Assis tem um conto admirável – “Um homem célebre” – que narra a história de um famoso e prestigiado
compositor popular do Rio do século XIX, um tal de Pestana, que em vez de gozar o sucesso de cada uma de suas composições
ligeiras e dançantes, vivia atormentado por não compor nada à altura de um Mozart, de um Beethoven. Cada vez que uma composição sua atingia em cheio o gosto popular, o maestro oculto que havia nele sofria o sucesso fácil como uma sentença de morte.
Machado resumiu assim a vida dramática desse músico ao mesmo tempo celebrado e infeliz: “Eterna peteca entre a ambição e a
vocação”.
A frase é forte: o jogo da peteca realiza o sofrido movimento de pêndulo de cada divisão nossa, que nunca encontra um ponto
de equilíbrio. Ser jogado eternamente de um lado para outro, sem repouso, é de enlouquecer. É a oposição contínua entre duas
forças que nos dividem e fazem sofrer: a força que está na inclinação natural para atender a uma vocação já instalada em nós e a
força pela qual pretendemos atingir uma altura que está longe dos nossos recursos. No caso de Pestana, a aclamação pública que
cada música sua atingia não compensava de modo algum a falta de realização de seus mais altos projetos pessoais.
Com esse conto, Machado lembra que há quem não se contente em ser uma celebridade, sobretudo quando julga vazia essa
celebração; há ainda quem busque alcançar a aprovação pública pelo valor efetivo de uma mais alta realização criativa. Essa busca,
para desgraça nossa, é sofrida, e pode nos levar a dançar de um lado para outro. A saída estaria em identificarmos precisamente qual
é a nossa vocação, para estabelecermos a partir dela os contornos da nossa ambição.
(TOLEDO, Cristiano. A publicar)
Ao figurar a vida do compositor Pestana como eterna peteca entre ambição e vocação,Machado de Assis está se valendo da
A) simultaneidade exemplar de dois esforços para demonstrar como eles se harmonizam na intimidade exigente do compositor.
B) exclusão recíproca dessas duas forças, quando elas disputam um lugar privilegiado na consciência de Pestana.
C) alternância sistemática entre duas polarizações, de modo que se possa avaliar o drama insolúvel da insatisfação do artista.
D) causalidade fatal entre ambos os empenhos, já que se trata de demonstrar que a vocação é a origem mesma de toda ambição.
E) proporcionalidade plena que rege a ambas, pois se trata de demonstrar que tão mais forte é a vocação quanto maior seja a ambição.
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