PortuguêsInterpretação de textos (2)
- (IFB 2017)
A questão terá como base o texto seguinte:
ESSES TEXTOS
O texto primeiro existe
só, como ponto.
Se transforma depois em linha
com sua própria força
de deslocação,
sua velocidade própria.
Depois,
o leitor institui
outra linha, lendo.
O leitor constitui
um feixe de linhas cruzadas
organizando os textos.
No percurso do texto
e no trânsito da leitura,
as linhas se chocam,
se repudiam, se perdem,
correm paralelas
e podem se amar.
Depois, saber fazer
retorná-las a ponto.
(Mas o importante é o leitor. Você.)
É preciso ter calma.
Saber ir abotoando
os elementos vários
à espera do clique
de colchete.
Quando dois ou mais
se engatam,
fecha-se um sentido
único e exclusivo.
Mas que você pode emprestar
a alguém,
desde que o diga
(Não tenha medo da alta-velocidade.
Não tenha receio de dar marcha à ré.)
É preciso ter pressa.
Saber ir desabotoando
os colchetes de sentido
como quem quer tirar
camisa usada e suada
de dia de trabalho.
Cada camisa,
depois de surrada,
é fonte
de novo esforço.
Ou então vira
camisa-de-força.
É preciso saber vestir
o texto,
como tatuagem na própria
pele.
É preciso saber tatuar
o texto,
como sulcos feitos
na bruta realidade.
O duplo estilete
do texto e da leitura,
do autor e do leitor.
A dupla tatuagem
contra o próprio corpo
e a realidade bruta.
A tatuagem que se imprime
para poder forçar
a barra.
A tatuagem que o corpo,
depois de violado
tatua. Violentando.
(SANTIAGO, Silviano, Crescendo durante a guerra numa província ultramarina . Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.)
No tocante à interpretação de “Esses textos”, está CORRETOafirmar:
A) A função do leitor é primordial para o texto existir, segundo está enunciado no poema desde a primeira estrofe.
B) Há um certo didatismo sobre o tema “leitura”, no discurso poético de Silviano Santiago nesse texto em questão, pois o leitor deveria respeitar aquilo que o próprio texto indica para sua leitura.
C) Na afirmação “(Mas o importante é o leitor. / Você.)”, está dito que o leitor pode fazer a leitura do jeito que quiser, porque essa liberdade de interpretação cabe simplesmente a ele. Isso quer dizer que o texto literário não tem um fio condutor, conforme é explicado, a seguir, quando o poeta fala em “abotoar/desabotoar” o texto.
D) Pela leitura dos versos que falam sobre os cliques de colchete, “Quando dois ou mais / se engatam, / fecha-se um sentido / único e exclusivo.”, isso significa que a explicação, no poema, prima pelo sentido literal próprio de todos os tipos de textos.
E) O sentido contextual de “Cada camisa, / depois de surrada, / é fonte / de novo esforço.” refere-se, somente, ao esforço do autor, na construção de um texto poético.
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