PortuguêsInterpretação de textos (3)
- (IBFC 2015)
Plataforma
O Rio vive uma contradição no carnaval que parece não ter saída. Não vai longe o tempo em que reclamava da decadência da folia nas ruas. O carnaval tinha se transformado no desfile de escolas de samba, uma festa elitista que se resumia ao que acontecia nos limites do Sambódromo e que era vista por apenas 30 mil pessoas que pagavam caro para participar da brincadeira. E que só durava duas noites. Para quem se diz o maior carnaval do mundo, convenhamos que é muito pouco mesmo. Agora, quando os blocos voltaram a animar as ruas da cidade durante toda a folia e ainda nas semanas que a antecedem, o Rio continua reclamando. Tem bloco demais, tem gente demais, tem pouco banheiro, tem muito banheiro... Carnaval é festa espontânea. Quanto mais organizado, pior. Chico Buarque fala sobre isso no ótimo samba "Plataforma". "Não põe corda no meu bloco/ Nem vem com teu carro-chefe/ Não dá ordem ao pessoal", já dizia ele num disco de antigamente. Bem, como antigamente as letras de Chico sempre queriam dizer outra coisa, é capaz de ele não estar falando de organização do carnaval. Mas à certa altura ele é explícito: "Por passistas à vontade que não dancem o minueto". Para quem está chegando agora, pode parecer o samba do crioulo doido. Mas o compositor faz uma referência ao desfile do Salgueiro de 1963, quando "Xica da Silva" foi apresentada à avenida. A escola "inovou" apresentando uma ala com 12 pares de nobres que dançavam o minueto. Foi um escândalo. Não pode. Passista tem que desfilar livre, leve e solto. Falando disso agora, quando passistas não têm a menor importância, quando eles mal são vistos na avenida, percebe-se que o minueto era o de menos. Mas isso é escola de samba, e o assunto aqui é carnaval de rua (faz tempo que escola de samba não é carnaval de rua). Com o renascimento dos blocos, o Rio recuperou a alegria do carnaval nas calçadas, no asfalto, na areia. E agora? Basta dar uma olhada nas cartas dos leitores aqui do jornal. Reclama um leitor: "Para os moradores de Ipanema, (o carnaval de rua 2011) transformou-se num tormento. Ruas bloqueadas até para o trânsito de pedestres, desrespeito à Lei do Silêncio, atos de atentado ao pudor e, por vezes, de vandalismo". Escreve outro, sobre os mijões, figura que ficou tão popular no período quanto a colombina e o pierrô: "A Guarda Municipal deveria agir com mais atenção e no rigor da lei. Está muito sem ação". Mais um: "Com que direito a prefeitura coloca esses banheiros horrorosos nas avenidas da orla, onde se paga dos IPTUs mais caros do mundo, ocupando vagas de carros que já são tão poucas?" Como se vê, e voltando a citar o samba do Chico, o carioca tem o peito do contra e mete bronca quando o assunto é carnaval. Mas carnaval de rua muito organizado... não sei, não. É como botar o pessoal que sai nos blocos pra dançar o minueto. Carnaval de rua e organização não combinam.
(Artur Xexéo. Revista O Globo , dezembro de 2011)
Analise as afirmativas sobre o trecho em destaque abaixo e assinale a alternativa correta:
“Mas carnaval de rua muito organizado... não sei, não. É como botar o pessoal que sai nos blocos para dançar o minueto."
I. As reticências contribuem para reforçar o tom de desconfiança do cronista em relação à organização do carnaval.
II. A compreensão da crítica feita pelo autor está centrada na palavra “minueto", desenvolvida anteriormente pelas referências a Chico Buarque e ao desfile de uma escola de samba.
III. O autor acredita que a ausência de regras é característica básica do carnaval de rua.
IV. Entre a primeira frase e a segunda, há uma relação de causa e conseqüência.
A) Todas as afirmativas estão corretas.
B) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
C) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
D) Apenas as afirmativas I e II est.o corretas.
E) Apenas as afirmativas II e IV estão corretas.
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