PortuguêsInterpretação de textos (3)
- (FCC 2015)
Dona Doida
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso,
com trovoada e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.
(PRADO, Adélia. Poesia Reunida . São Paulo, Siciliano, 1991, p. 108)
No contexto do poema,
A) as janelas representam uma maneira de esquecer o passado, simbolizando um presente sem sofrimento.
B) a chuva representa uma espécie de vínculo, simbólico e sensorial, entre a enunciadora e sua mãe.
C) os chuchus representam a infância sofrida da enunciadora, que não recebia a atenção de sua mãe.
D) a sombrinha representa a impossibilidade de se reter na memória uma experiência vivida na infância.
E) as coxas à mostra da enunciadora representam o tempo que não passou, nem para ela nem para seus filhos e marido.
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