PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (28)
- (FCC 2022)
Atenção : Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
[Religiões e progresso]
É conhecida a tese de que nas sociedades pré-modernas, como o medievo europeu ou as culturas ameríndias e africanas
tradicionais, a religião não tem uma existência à parte das demais esferas da vida, não é um nicho compartimentalizado de devoção e
celebração ritual demarcado no tempo e no espaço, mas está integrada à textura do cotidiano comum e permeia todas as instâncias
da existência.
A separação radical entre o profano e o sagrado – entre o mundo secular regido pela razão, de um lado, e o mundo da fé,
regido por opções e afinidades estritamente pessoais, de outro – seria um traço distintivo da moderna cultura ocidental. Mas será isso
mesmo verdade? Até que ponto o mundo moderno teria de fato banido a emoção religiosa da vida prática e confinado a esfera do
sagrado ao gueto das preces, contrições e liturgias dominantes? Ou não seria essa compartimentalização, antes, um meio de
apaziguar as antigas formas de religiosidade e ajustar contas com elas ao mesmo tempo em que se abre e se desobstrui o terreno
visando a liberação da vida prática para o culto de outros deuses e de outra fé?
Não se trata, é claro, de negar o valor desses outros deuses: a ciência, a técnica, o conforto material, a sede de acumulação de
riquezas. O equívoco está em absolutizar esses novos deuses em relação a outros valores, e esperar deles mais do que podem
oferecer. A ciência jamais decifrará o enigma de existir; a tecnologia não substitui a ética; e o aumento indefinido de renda e riqueza
não nos conduz a vidas mais livres, plenas e dignas de serem vividas, além de pôr em risco o equilíbrio mesmo da bioesfera.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 152-153)
Ao se referir aos novos deuses, aos outros deuses do nosso tempo, o autor está considerando a
A) premência de se renovar, no mundo secular, a fé incondicional e a devoção essencial que caracterizavam os ritos antigos.
B) estabilidade social que o progresso da ciência e a consolidação dos valores éticos estão imprimindo no cotidiano moderno.
C) necessidade de sacralizarmos, como fizeram os antigos, as qualidades morais que só a prática estritamente religiosa pode recuperar.
D) infundada esperança de que os novos ritos religiosos alcancem a força que tinham em épocas de devoção mais sincera.
E) ilusão de que as práticas da ciência, da economia e da tecnologia possam alcançar as altas metas do progresso que pretendem atingir.
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