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PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (18)


EXERCÍCIOS - Exercício 212

  • (VUNESP 2020)

Meu pai teve formação cosmopolita. Mudamo-nos de Buenos Aires para São João da Boa Vista, depois para Poços de Caldas. Eu tinha dez anos, mas os irmãos mais velhos Martha, Rosita, Felipe e Clara traziam os ares da mais cosmopolita cidade da América Latina e conviveram sem problemas com o cosmopolitismo das temporadas de Poços e, fora das temporadas, com a cidade docemente caipira do interior.
Mas minha mãe vinha de uma família de imigrantes que se constituiu em São Sebastião da Grama, mudando-se para Poços logo após a Revolução de 32. Ela e suas irmãs traziam uma característica que encontrei em sucessivas gerações de filhos e filhas de imigrantes.
Nossos avós, os imigrantes do início do século, aportaram no Brasil com o sentimento de cidadania suficientemente desenvolvido para não se abrigarem debaixo do manto de proteção de algum coronel. Chegaram trabalhando como colonos, depois foram para as cidades. Alguns se tornaram agitadores políticos, outros se converteram em comerciantes, quase todos trouxeram conceitos de cidadania que o Brasil ainda não conhecia.
Em um país com pouca mobilidade social, com tantas crises sucessivas e sem a rede de relações sociais dos fazendeiros, a progenitura desses imigrantes aprendeu com seus pais que a maior herança que receberia seria a educação e a seriedade, a palavra dada, a honradez e o trabalho. A âncora social consistia em ler, ler, sempre ler, valorizar os valores intelectuais, o trabalho, a seriedade, serem exigentes consigo próprios, considerando supérfluo qualquer prazer.
Como minha mãe ironizava minhas irmãs quando elas, adolescentes, se empetecavam para ir aos bailinhos! Minha mãe dizia-lhes que era bobagem, que o importante são os valores intelectuais.
Ao longo da vida, invariavelmente me deparei com rapazes e moças do interior mantendo vivos esses valores do trabalho, do excessivo rigor consigo próprios. São diferentes dos cosmopolitas, daqueles que tiveram pais que trabalharam em grandes empresas, com a segurança das grandes organizações, e aprenderam a conviver com essas relações hierárquicas, a navegar pelas regras tácitas do emprego, engolindo um sapo aqui, aprendendo a vender o peixe ali, montando pactos com colegas, chamando o superior de chefe e tendo paciência para galgar os degraus hierárquicos.
A rapaziadinha do interior vai para a cidade grande sem saber dessas coisas, mas com uma acuidade muito maior para entender pessoas e situações. Como contou Antonio Cândido, no prefácio de “O Menino do São Benedito”, no interior convivemos com o prefeito e com o lixeiro e se percebem grandes e pequenos homens tanto entre os poderosos quanto entre os humildes.
(Luis Nassif. Os jovens do interior.
https://jornalggn.com.br, 24.11.2019. Adaptado)

Sobre as características da família do autor, é correto afirmar que


A) o pai tem origens mais humildes que a mãe, visto que teve de se mudar diversas vezes em busca de melhores condições de vida.

B) a mãe era uma revolucionária e engajada politicamente, pois havia se formado entre imigrantes e agitadores políticos.

C) o pai se formou em uma faculdade em Buenos Aires, mas abandonou o ambiente cosmopolita e mudou-se para o interior do Brasil.

D) as irmãs da mãe conheciam a vida na cidade grande, mas adaptaram-se facilmente aos ideais e ao modo de vida das cidades do interior.

E) a mãe não era uma pessoa que priorizava a vaidade, pois havia recebido uma educação em que reinavam os valores típicos de imigrantes.


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