PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (18)
- (ADM&TEC 2020)
O mal invisível que vem de longe
No início, o perigo vinha do céu. Tempo da segunda guerra. À
noite, escuridão total nas cidades, para se precaver de
bombardeios dos alemães. Nenhum sinal de luz poderia
aparecer. A vigilância policial atenta. A escuridão, geral. Para
se acender uma lâmpada, necessário que ocorresse em local
fechado, para não deixar a cauda de fora. Muito ouvi essa
ladainha. Mas sou do tempo em que o perigo saía da sujeira
dos galinheiros, o mosquito danado provocando um enjoo
miserável, batizado pela alcunha de dengue, que tive, os
olhos virando, a parte do branco desaparecendo [...].
Sobrevivi.
Agora vem da boca, do contato, da secreção, passageiro de
avião, a pegar em um e contaminar centenas, e, assim,
sucessivamente, invadindo países e continentes, sem
precisar de passaporte, nem comprar passagem, nem de
reserva de hotel, escondido no passageiro, que se torna o
elemento a difundi-lo; as estatísticas diuturnamente a exibir
novos números, entre os afetados e os suspeitos, as
medidas sendo tomadas, o homem, finalmente, descobrindo
que o lugar mais seguro é a sua casa. Não é a bomba alemã
que faz medo, não é o galinheiro que exibe sujeira. O mal
evoluiu. Ficou invisível. [...]
Estamos, suspeitos, confirmados e assustados, no mesmo
barco, torcendo e rezando, para que o mal fique bem longe,
não dê as caras, vá embora usufruir de boas e eternas férias
em desertos de muito calor; e, se possível, em outros
planetas, já indo tarde, não precisando nem apagar a luz do
aeroporto, muito menos de abraços de despedidas. Por ora,
ouvido no rádio, olho nas mensagens que nos chegam,
conselhos de solidão que devem ser acatados, higiene total,
a começar pelas mãos, nada de reunião, de aglomerados, de
ambiente apertado. Ufa! Mais cedo ou mais tarde, passa. Aí
tudo volta a ser alegre, vestindo azul para a sorte mudar.
Enquanto isso, um amigo, que sempre viveu afundado no
pessimismo, concorda comigo. Então, num riso largo,
sentencia: quem sobreviver, conta a história. Cruz credo! Dei
o diálogo por encerrado.
(Adaptado. Revisão linguística. CARVALHO, V. S. O mal
invisível que vem de longe. Disponível em:
https://bit.ly/3dTCNuy. Acesso em: mar 2020)
Leia o texto 'O mal invisível que vem de longe' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:I. Tanto o perigo oriundo da “sujeira dos galinheiros”, como o “mosquito danado provocando um enjoo miserável, batizado pela alcunha de dengue”, foram recursos usados para fazer alusão a outras pandemias. Essa recuperação de informações é crucial para o entendimento da ideia central do texto.
II. O pessimismo do amigo, referenciado num dos últimos períodos do texto, está explicitado no fragmento “quem sobreviver, conta a história”.
Marque a alternativa CORRETA:
A) As duas afirmativas são verdadeiras.
B) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa.
C) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa.
D) As duas afirmativas são falsas.
Próximo:
EXERCÍCIOS - Exercício 105
Vamos para o Anterior: Exercício 103
Tente Este: Exercício 49
Primeiro: Exercício 1
VOLTAR ao índice: Português