PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (14)
- (COVEST-COPSET 2019)
“Português é muito difícil” .
Essa afirmação preconceituosa é prima-irmã da ideia de que “brasileiro não sabe português”. Como o nosso ensino da língua sempre se baseou na norma gramatical literária de Portugal, as regras que aprendemos na escola, em boa parte, não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil.
Por isso, achamos que “português é uma língua difícil”: temos de fixar regras que não significam nada para nós. No dia em que nosso ensino se concentrar no uso real , vivo e verdadeiro da língua portuguesa do Brasil , é bem provável que ninguém continue a pensar assim. Todo falante nativo de uma língua sabe essa língua. Saber uma língua, na concepção científica da linguística moderna, significa conhecer intuitivamente e empregar com facilidade e naturalidade as regras básicas de seu funcionamento.
Está provado e comprovado que uma criança, por volta dos 7 anos de idade, já domina perfeitamente as regras gramaticais de sua língua. O que ela não conhece são sutilezas e irregularidades no uso dessas regras, que só a leitura e o estudo podem lhe dar. Nenhuma criança brasileira dessa idade vai dizer, por exemplo: “ Uma meninos chegou aqui amanhã ”. (...)
Se tantas pessoas inteligentes e cultas continuam achando que “não sabem português” ou que “português é muito difícil”, é porque o uso da língua foi transformado numa ciência esotérica, numa doutrina cabalística que somente alguns iluminados conseguem dominar completamente. (...)
No fundo, a ideia de que “português é muito difícil” serve como um dos instrumentos de manutenção do status quo das classes sociais prestigiadas.
É lamentável que a imagem da língua tenha sido empobrecida e reduzida a uma nomenclatura confusa e a exercícios descontextualizados, práticas que se revelam irrelevantes para, de fato, levar alguém a se valer dos muitos recursos que a língua oferece.
Marcos Bagno. Preconceito linguístico. São Paulo: Parábola, 2015. p. 57-63. Adaptado.
Avaliando as ideias expressas no Texto 2, é correto afirmar que:
A) são mostradas as consequências do problema, mas não se discutem as causas que o provocam.
B) faltam argumentos que sustentem outras possibilidades de contornar a realidade tratada.
C) conforme a visão do Texto 2, a escola fica inteiramente dispensada de ensinar a língua.
D) os preconceitos que atingem o fenômeno da língua têm repercussão socialmente danosa.
E) o uso real da língua portuguesa falada no Brasil constitui o referencial de estudo nas escolas.
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