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PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (6)


EXERCÍCIOS - Exercício 114

  • (FUNCAB 2014)

Apessoados

Nossa língua tem mistérios nunca devidamente estudados - ou então já fartamente esclarecidos sem que nós, os comuns, ficássemos sabendo. Por exemplo: nunca entendi o que quer dizer “bem-apessoado”. Se existe “bem-apessoado” deve existir “mal-apessoado” - significando exatamente o quê? Eu sei, eu sei, diz-se que alguém é “bem-apessoado” quando tem uma boa aparência. O “bem-apessoado” é agradável aos olhos, sua companhia é sempre bem-vinda e seu visual melhora qualquer ambiente. Já o “mal-apessoado” deve ser alguém que não se completou como pessoa, que falhou na sua representação humana. Pode até ter um belo interior, mas não o exterioriza.

Desconfio que a expressão “bem-apessoado” surgiu como eufemismo. Quando não se podia dizer que alguém era bonito, dizia-se que era bem-apessoado. Como chamar uma mulher de vistosa quando não se pode chamá-la de linda. “Vistosa” é um adjetivo suficientemente vago - descreve montanhas tanto quanto mulheres - para não melindrar ninguém. Curiosamente, não se usa, que eu saiba, “bem-apessoada”. O termo só se aplica a homens. O que leva a outra conclusão: “bem-apessoado” seria uma maneira de um homem falar da beleza de outro homem sem, epa, mal-entendidos.

- Bem, você não acha o George Clooney maravilhoso?

-Bem-apessoado, bem-apessoado.

Outrossim, outro termo intrigante que raramente tive a oportunidade de usar é “outrossim”. Descobri que a palavra quer dizer exatamente o que parece, outro “sim”, ou um “sim” adicional, mas que nunca é usada neste sentido. “Outrossim” é como ponto e vírgula; poucos sabem como e onde empregá-lo corretamente. Nas poucas vezes em que usei “outrossim” - e ponto e vírgula também - foi com uma certa trepidação, como quem invade a propriedade de alguém sem saber se vai ser corrido pelos cachorros, no caso os guardiões do vernáculo. Há quem sugira que só se possa usar o ponto e vírgula com autorização expressa da Academia Brasileira de Letras.

Outra palavra estranha é “amiúde”. Ninguém mais a usa, pelo menos não amiúde. Mas ela pode voltar, graças á música “Geni” que o Chico Buarque resgatou do seu musical “A ópera do malandro” e é um dos pontos altos do seu show atual. A Geni vai com todo o mundo...

“E também vai amiúde

Com os velhinhos sem saúde.”

Bendita Geni.

Luiz Fernando Veríssimo, in O Globo, Caderno Opinião, 25/03/2012.


Assinale a opção correta com relação ao texto.


A) Por serem falantes da língua portuguesa, os brasileiros dominam a língua e não têm dúvidas quanto ao seu uso.

B) O autor, no primeiro parágrafo, sente-se angustiado por desconhecer o significado do termo “bem-apessoado”.

C) No trecho “Há quem sugira que só se possa usar o ponto e vírgula com autorização expressa da Academia Brasileira de Letras.”, o autor usa de ironia.

D) O músico Chico Buarque inventou a palavra “amiúde” com o intuito de fazer sucesso com seu musical “A ópera do malandro”.

E) O verbo “melindrar”, no segundo parágrafo do texto, foi empregado pelo autor com o sentido de “ignorar”.


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