PortuguêsFiguras de linguagem (2)
- (EDUCA 2020)
Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
Água congelada, por chumbo seu verbo:
Pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
A pedra dar à frase seu grão mais vivo:
Obstrui a leitura fluviante, flutual,
Açula a atenção, isca-a com risco.
MELO NETO, João Cabral de. Melhores poemas João Cabral de Melo Neto .
Seleção Antonio Carlos Secchin. 10 ed. São Paulo: Global, 2010.
Das hipóteses abaixo levantadas para interpretação do poema, considerando a imanência textual, somente uma nãopode ser comprovada no texto.
A) O trabalho do escritor, embora comparado com uma atividade simples como catar feijão, demonstra-se bem mais denso, o que se pode confirmar com o verso “Certo, toda palavra boiará no papel”.
B) A impessoalidade no poema é marcada pela presença de verbos no infinitivo como “catar”, “escrever”, “boiar”, “soprar” e por verbos na voz passiva sintética como “se limita”, “joga-se”.
C) A palavra “pedra” em todo o poema é usada como metáfora da dificuldade de atribuição de sentidos ao que se pretende ler em um texto poético.
D) Catar palavras em meio às pedras pode ser entendido como um trabalho denso do escritor para não deixar os sentidos muito perceptíveis pelo leitor.
E) O último verso do poema: “Açula a atenção, isca-o com o risco” pode ser associado ao sujeito-leitor do texto.
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