PortuguêsInterpretação de textos (6)
- (FCC 2013)
A Gazeta c omentou hoje, com fina malícia, uma publicação do Diário Oficial, contendo a lista de todas as patentes de invenção que caíram em caducidade. É realmente interessante a relação dessas “invenções”, que os inventores, desenganados ou desprotegidos, não quiseram ou não puderam explorar: máquinas de beneficiar café, instrumentos de música, selins, carvão, mobílias, dentaduras, carros, tintas, caixões para defuntos, acendedores instantâneos, e que sei mais? não houve ramo de indústria em que o gênio dos “inventores” não se exercitasse.
A mania de inventar é uma das mais espalhadas . [...]
Ah! pobre alma humana, sempre devorada por sonhos torturantes, sempre incendida em desejos e ambições ardentes! “Inventar” é a grande e fúlgida Quimera... Inventar é criar: quem inventa é, mais ou menos, o rival de Deus, o êmulo das forças vivas da natureza. Inventar é reproduzir a aventura arrojada de Prometeu: é roubar ao céu um pouco do seu segredo, é entrar em competência com a Divindade, é afrontar a força criadora e misteriosa que rege o universo ... Ousado e rútilo sonho!...
Desses pobres inventores, desses infelizes filhos e continuadores do Prometeu antigo, quantos acabam desiludidos ou loucos no catre do hospital ou na cela do manicômio! Mas quem haverá que ouse rir dessa loucura ou dessa miséria? A mania da “invenção” é a prova palpável, a demonstração cabal e irrecusável da força da alma humana – dessa mártir encarcerada que vive a bracejar no duro cárcere, querendo partir os liames que a cativam, querendo libertar-se de sua penúria moral, querendo voar e devassar os segredos da vida. Essa doença é o Ideal!
Confesso que, lendo a relação de patentes publicada pelo Diário Oficial, não tenho a coragem de sorrir. O sentimento, que essa leitura me inspira, é uma mistura de tristeza e de admiração: tristeza pela inanidade dos nossos sonhos, e admiração pelo incansável aspirar, pela ânsia infinita, pela sagrada e perpétua revolta da alma humana contra a sua miséria, e pelo seu eterno desejo de saber, de compreender, de criar, de caminhar para a luz...
(Olavo Bilac. Obra reunida . Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 490)
Quanto ao desenvolvimento textual, a afirmativa correta é:
A) A referência ao roubo cometido por Prometeu constitui o argumento em que se baseia o autor, ao constatar a ausência de tino moral entre os homens.
B) O autor, tomando como referência os insucessos do ser humano quanto à invenção de objetos que lhe possibilitariam melhores condições de vida, expõe sua descrença em relação a essa capacidade.
C) O último parágrafo, introduzido por verbo na 1ª pessoa, se encontra isolado do assunto que vem sendo desenvolvido por considerações de âmbito geral, referentes ao comportamento humano.
D) Com intenção didática, o autor discorre sobre as contradições da alma humana que, ao lado de ambiciosas aspirações, se detém em invenções prosaicas do cotidiano.
E) A partir de um fato sem grande interesse, o autor se põe a analisar o comportamento humano, sempre em busca de realizações que ultrapassem as situações corriqueiras da vida.
Próximo:
EXERCÍCIOS - Exercício 60
Vamos para o Anterior: Exercício 49
Tente Este: Exercício 257
Primeiro: Exercício 1
VOLTAR ao índice: Português