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EXERCÍCIOS - Exercício 470

  • (VUNESP 2014)

“Cacilda!", exclamei ao entrar na plateia do teatro Cacilda Becker para assistir ao espetáculo “Eu Não Sou Bonita", com direção e atuação da espanhola Angélica Liddell. Não, infeliz­mente meu clamor não estava vinculado à admiração pela glo­riosa atriz que batiza a casa. Fato está que dei de cara com um cavalo branco que, de tão grande, mais parecia um alce. O pobre animal estava entocado num canto do palco atrás de um monte de feno, cena assaz perturbadora.
Enquanto a protagonista não chegava ao palco para nos brindar com sua crítica à brutalidade da sociedade patriarcal, eu viajei perdida em conjecturas. “E esse animal é mesmo necessá­rio em cena?", pensei. Lembrei de “Equus", de Peter Shaffer, em 1975. Minha mãe me levou para assistir na Broadway, estrelado por Anthony Perkins. Que show ! A maneira como resolveram a presença de cavalos em cena foi eficiente e sintética: máscaras, tamancões, bailarinos e pronto.
Uma imponente Angélica Liddell entrou em cena jorrand o versos em choro. “Cansei de ser mulher, de ter vergonha! Ensi­naram­me a detestar meu corpo…" A atriz é performática, bem anos 1980. Vai abrindo uma cerveja e outra e afogando as mágoas do tamanho do equino. Você começa a entender que a perso­nagem sofreu alguma barbaridade na infância. Só quem não se comove é o cavalo, que não para de mastigar alfafa e parece se incomodar a cada vez que ela quebra um objeto ou grita.
De repente, um punhado de ativistas está sobre o palco exi­bindo cartazes. “Tirem o animal!"; “Animal não é propriedade!"; “Sejamos artistas, não algozes!".
No mínimo, é interessante ver a interferência de jovens e xpressando os direitos de quem não tem voz ativa, não? Só que o público não viu graça. Devo ter tido a má sorte de cair com uma plateia intolerante. Vai ver, sobrei com a turma que consi­dera “arte" uma coisa que deve ser levada muito, muito a sério.
A garotada pediu para dizer umas palavras e avisou que iria embora logo. Porém, homens adultos, mulheres refinadas, supostos apreciadores de cultura levantaram­se enfurecidos e, amparados na unanimidade de respeitadores da ordem, partiram para um bullying violento contra os manifestantes.
A porta­voz tentou falar, mas foi abafada pela gritaria. Lem­brou - ­me da cena deprimente que presenciei no ano passado, ao mediar um debate da blogueira cubana Yoani Sánchez, violen­tamente impedida de falar. Intransigência no lugar de diálogo.
Finalmente, depois de serem xingadas, humilhadas e tratadas por loucas, as moças puderam falar. Uma das manifestantes desceu do palco e sentou­se, tremendo, na cadeira ao meu lado. “Como a senhora se chama?", perguntou. Respondi. Ela havia me visto filmando.
“Sou estudante de veterinária, posso lhe garantir que o cavalo não deveria estar ali, a senhora entende, sabe o que é um ser senciente?"
Sei sim, é um ser capaz de sentimentos como dor e agonia e emoções próximas ao pensamento. Mais do que muitos ali pare­cem dominar. Inclusive a protagonista. Sim, porque, para quem deseja denunciar injustiça e preconceito, o ato de jogar seus irmãos de armas aos leões mostrou a medida de sua sinceridade.

(Barbara Gancia, Folha de S.Paulo, 15.03.2014. Adaptado)


A frase do texto que, após a alteração da ordem, permanece correta, no que se refere à pontuação, é:


A) Não, meu clamor infelizmente, não estava vinculado à admiração pela gloriosa atriz que batiza a casa.

B) Um punhado de ativistas, de repente, está sobre o palco exibindo cartazes.

C) É interessante ver no mínimo, a interferência de jovens expressando os direitos de quem não tem voz ativa, não?

D) Depois de serem xingadas, humilhadas e tratadas por loucas, as moças, finalmente puderam falar.

E) Uma das manifestantes desceu do palco e, tremendo sentou­se, na cadeira ao meu lado.


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