PortuguêsFlexão verbal de tempo (presente pretérito futuro) (3)
- (IBFC 2022)
Texto I
“Explicar, a mim, como é Alejandra, Bruno
ponderou, como é seu rosto, como são as dobras
de sua boca.” E pensou que eram justamente
essas dobras desdenhosas e um certo brilho
tenebroso nos olhos que diferenciavam mais que
tudo o rosto de Alejandra do rosto de Georgina, a
quem ele amara de verdade. Pois, agora
compreendia, a ela é que amara realmente, e
quando imaginou estar apaixonado por Alejandra
era a mãe de Alejandra que buscava, como esses
monges medievais que tentavam decifrar o texto
primitivo debaixo das restaurações, debaixo das
palavras apagadas e substituídas. E essa
insensatez fora a razão de tristes mal-entendidos
com Alejandra, tendo às vezes a mesma sensação
de quem, após muitíssimos anos de ausência,
chega à casa da infância e, ao tentar de noite abrir
uma porta, depara com uma parede. Claro que
seu rosto era quase o mesmo de Georgina: o
mesmo cabelo preto com reflexos avermelhados,
os olhos cinza-esverdeados, a boca idêntica e
grande, as mesmas faces mongólicas, a mesma
pele morena e pálida. Mas o “quase” era atroz, e
mais ainda por ser tão sutil e imperceptível, pois
assim o equívoco era mais profundo e doloroso.
Os ossos e a carne – pensava – não bastam para
formar um rosto, e é por isso que ele é
infinitamente menos físico do que o corpo: é
determinado pelo olhar, pelo ríctus da boca, pelas
rugas, por todo esse conjunto de atributos sutis
com que a alma se revela por meio da carne.
Razão pela qual, no momento exato em que
alguém morre, seu corpo se transforma
abruptamente numa coisa diferente, tão diferente
a ponto de se poder dizer “não parece a mesma
pessoa”, apesar de ter os mesmos ossos e a
mesma matéria de um segundo antes, um
segundo antes desse misterioso instante em que
a alma se retira do corpo e este fica tão morto
como uma casa da qual se retiram para sempre os
seres que moram nela, e, sobretudo, que sofreram
e se amaram nela.
(SABATO, Ernesto. Sobre heróis e tumbas .
São Paulo: Planeta De Agostini, 2003, p.22-23)
Na oração “a quem ele amara de verdade”, a flexão do verbo é marcada por uma regularidade que indica tempo e modo. Tal flexão confere ao verbo o sentido de uma ação:
A) futura que não será realizada em função de fato passado.
B) do presente que dialoga com episódios do passado.
C) do passado que é replicada em momentos futuros.
D) do presente que se articula com uma projeção futura.
E) passada anterior às ações enunciadas no passado.
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