PortuguêsCoesão e coerência (6)
- (CESPE / CEBRASPE 2021)
Texto 1A1-I
Não sei quando começou a necessidade de fazer listas,
mas posso imaginar nosso antepassado mais remoto riscando na
parede da caverna, à luz de uma tocha, signos que indicavam
quanto de alimento havia sido estocado para o inverno que se
aproximava ou, como somos competitivos, a relação entre nomes
de integrantes da tribo e o número de caças abatidas por cada um
deles.
Se formos propor uma hermenêutica acerca do tema,
talvez possamos afirmar que existem dois tipos de listas: as
necessárias e as inúteis. Em muitos casos, dialeticamente, as
necessárias tornam-se inúteis e as inúteis, necessárias. Tomemos
dois exemplos. Todo mês, enumero as coisas que faltam na
despensa de minha casa antes de me dirigir ao supermercado;
essa lista arrolo na categoria das necessárias. Por outro lado, há
pessoas que anotam suas metas para o ano que se inicia: começar
a fazer ginástica, parar de fumar, cortar em definitivo o açúcar,
ser mais solidário, menos intolerante... Essa elenco na categoria
das inúteis.
Feitas as compras, a lista do supermercado, necessária,
torna-se então inútil. A lista contendo nossos desejos de sermos
melhores para nós mesmos e para os outros, embora inútil, pois
dificilmente a cumprimos, converte-se em necessária, porque
estabelece um vínculo com o futuro, e nos projetar é uma forma
de vencer a morte.
Tudo isso para justificar o que se segue. Ninguém me
perguntou, mas resolvi organizar uma lista dos melhores
romances que li em minha vida — escolhi o número vinte, não
por motivos místicos, mas porque talvez, pela amplitude,
alinhave, mais que preferências intelectuais, uma história afetiva
das minhas leituras. Enquadro-a na categoria das listas inúteis,
mas, quem sabe, se consultada, municie discussões, já que toda
escolha é subjetiva e aleatória, ou, na melhor das hipóteses,
suscite curiosidade a respeito de um título ou de um autor.
Ocorresse isso, me daria por satisfeito.
Luiz Ruffato. Meus romances preferidos .
Internet: <brasil.elpais.com> (com adaptações).
No texto 1A1-I, a forma pronominal “a” empregada no trecho “Enquadro-a na categoria das listas inúteis” (último parágrafo) refere-se a
A) “uma história afetiva das minhas leituras” (último parágrafo).
B) “a lista do supermercado” (penúltimo parágrafo).
C) “minha vida” (último parágrafo).
D) “uma lista dos melhores romances que li em minha vida” (último parágrafo).
E) “A lista contendo nossos desejos de sermos melhores para nós mesmos e para os outros” (penúltimo parágrafo).
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