PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (2)
- (FCC 2017)
Atenção : Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Quando confrontada a duas teorias – uma simples e outra complexa – para explicar um problema, a maior parte das pessoas não hesita em favorecer a primeira, também qualificada como elegante. “Em muitos casos, porém, a complexa pode ser mais interessante”, lembra o filósofo Marco Zingano, da Universidade de São Paulo. Segundo ele, a escolha é natural na cultura ocidental contemporânea porque o pensamento dessas civilizações foi moldado por Aristóteles e Platão, os filósofos de maior destaque na Grécia Antiga, para quem a metafísica da unidade tinha como paradigma a simplicidade.
Levado ao pé da letra, o resgate puramente historiográfico das contribuições da Antiguidade pode parecer folclórico diante do conhecimento atual. Mas, mesmo que oculta, a influência de Aristóteles e de Platão está presente na forma como o pensamento governa os hábitos intelectuais da civilização atual.
Um dos problemas que ocuparam Platão e Aristóteles foi a acrasia, que leva uma pessoa a tomar uma atitude contrária à que sabe ser a correta. Se está claro, por exemplo, que uma moderada dose diária de exercícios é suficiente para prevenir uma série de doenças graves e trazer benefícios à saúde, por que alguém optaria por passar horas deitado no sofá e se locomover apenas de carro? Para Sócrates, a resposta era simples: guiado pela razão, o ser humano só deixa de fazer o que é melhor se lhe faltar o conhecimento.
Platão discordava, e resolveu o dilema dividindo a alma em três partes: um par de cavalos alados conduzidos por um cocheiro que representa uma delas, a razão. Um dos cavalos, arredio, só pode ser controlado a chicotadas e representa os apetites. O outro é a porção irascível da alma. É o impulso, em geral obediente à razão, mas que pode levar a decisões impetuosas em determinadas situações. “O que determina as ações seriam fontes distintas de motivação”, observa Zingano. Platão pensou o conflito como interno à alma, dando lugar à acrasia. Já Aristóteles dedicou um livro de sua Ética ao fenômeno.
Aristóteles e Platão tiveram um papel importante – e persistente – porque foram grandes sistematizadores do conhecimento. Eles procuraram domar conceitos diversos do Universo, do corpo e da mente, entender seu funcionamento e deixar registrado para uso futuro. Resgatar esses textos, explica Zingano, é uma busca da compreensão de como a cultura ocidental descreve o mundo e enxerga a si mesma ainda hoje.
(Adaptado de: GUIMARÃES, Maria. Disponível em: revistapesquisa.fapesp.br )
De acordo com o texto,
A) para Sócrates, por razões insondáveis, o ser humano muitas vezes deixa de buscar o que é melhor para si mesmo, ainda que tal atitude contrarie a razão.
B) com base na tradição da filosofia antiga, uma resposta complexa para um problema, ainda que simples, é considerada a mais requintada e harmônica.
C) a metáfora composta por Platão, na qual a razão guia dois cavalos, busca explicitar os motivos pelos quais uma pessoa, apesar de saber o melhor a ser feito, faz outra coisa.
D) o embate entre paixão e razão ocupou as reflexões de Sócrates e Platão, com resultados distintos: para o primeiro, é insólito; para o segundo, injustificável.
E) disseminado na Grécia Antiga, o pensamento de Platão e Aristóteles, embora de grande relevância histórica, exerce pouca influência no pensamento da cultura ocidental moderna.
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