PortuguêsPontuação
- (FCC 2019)
[O tempo sem rumo]
As datas deveriam nos fixar no tempo como as coordenadas geográficas nos fixam no espaço, mas a analogia não funciona. O tempo não tem pontos fixos, o tempo é uma sombra que dá a volta na Terra. Ou a Terra é que dá voltas na sombra. Nossa única certeza é que será sempre a mesma sombra – o que não é uma certeza, é um terror.
Na nossa fome de coordenadas no tempo nos convencemos até que dias da semana têm características. Que uma terça-feira, por exemplo, não serve para nada. Que terça é o dia mais sem graça que existe, sem a gravidade de uma segunda – dia de remorso e decisões – e o peso da quarta, que centraliza a semana. Gostaríamos que passar pelos dias fosse como passar por meridianos e paralelos, a evidência de estarmos indo numa direção, não entrando e saindo da mesma sombra. Não passando por cada domingo com a nítida impressão de que já estivemos aqui antes.
Já que não há coordenadas e pontos fixos no tempo, contentemo-nos com as metáforas fáceis. Este nosso milênio se estende como um imenso pergaminho à nossa frente, esperando para ser preenchido. Podemos escolher nosso destino, desenhar nossos próprios meridianos e paralelos e prováveis novos mundos. É verdade que a passagem do tempo não se mede apenas pelo retorno aos domingos, também se mede pela degradação orgânica, e que a cada domingo estaremos mais perto daquela sombra que nunca acaba... Nenhum de nós chegará muito longe neste milênio. Mas é bom saber que ele está, aqui, quase inteiro, sempre à nossa espera.
(Adaptado de VERISSIMO, Luis Fernando. Em algum lugar do paraíso . São Paulo: Objetiva, 2011, p. 7)
Está plenamente adequada a pontuação da frase:
A) O tempo, ainda que não possa ser controlado, dá-nos a sensação de que está aberto, sujeito a um preenchimento nosso.
B) Move-nos uma ilusão, de que possamos contar com o tempo como se ele estivesse disponível, para dele nos valermos, segundo nosso interesse.
C) O que se teme no tempo, é o fato de não podermos dimensioná-lo, segundo nossa necessidade.
D) Não se planeja o tempo, conquanto nosso desejo, fosse determinar exatamente os passos que temos a dar.
E) Cada dia da semana segundo o autor, tem características tão próprias, que nos fazem senti-los de modo distinto.
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