PortuguêsFiguras de linguagem
- (IBADE 2017)
Texto para responder à questão.
Uma estranha descoberta
Lá dentro viu dependurados compridos
casacos de peles. Lúcia gostava muito do cheiro e do
contato das peles. Pulou para dentro e se meteu entre
os casacos, deixando que eles lhe afagassem o rosto.
Não fechou a porta, naturalmente: sabia muito bem
que seria uma tolice fechar-se dentro de um guarda-roupa.
Foi avançando cada vez mais e descobriu que
havia uma segunda fila de casacos pendurada atrás
da primeira. Ali já estava meio escuro, e ela estendia
os braços, para não bater com a cara no fundo do
móvel. Deu mais uns passos, esperando sempre
tocar no fundo com as pontas dos dedos. Mas nada
encontrava.
“Deve ser um guarda-roupa colossal!”,
pensou Lúcia, avançando ainda mais. De repente
notou que estava pisando qualquer coisa que se
desfazia debaixo de seus pés. Seriam outras bolinhas
de naftalina? Abaixou-se para examinar com as
mãos. Em vez de achar o fundo liso e duro do guarda-roupa,
encontrou uma coisa macia e fria, que se
esfarelava nos dedos. “É muito estranho”, pensou, e
deu mais um ou dois passos.
O que agora lhe roçava o rosto e as mãos não
eram mais as peles macias, mas algo duro, áspero e
que espetava.
– Ora essa! Parecem ramos de árvores!
Só então viu que havia uma luz em frente, não
a dois palmos do nariz, onde deveria estar o fundo do
guarda-roupa, mas lá longe. Caía-lhe em cima uma
coisa leve e macia. Um minuto depois, percebeu que
estava num bosque, à noite, e que havia neve sob os
seus pés, enquanto outros flocos tombavam do ar.
Sentiu-se um pouco assustada, mas, ao
mesmo tempo, excitada e cheia de curiosidade.
Olhando para trás, lá no fundo, por entre os troncos
sombrios das árvores, viu ainda a porta aberta do
guarda-roupa e também distinguiu a sala vazia de
onde havia saído. Naturalmente, deixara a porta
aberta, porque bem sabia que é uma estupidez uma
pessoa fechar-se num guarda-roupa. Lá longe ainda
parecia divisar a luz do dia.
- Se alguma coisa não correr bem, posso
perfeitamente voltar.
E ela começou a avançar devagar sobre a
neve, na direção da luz distante.
Dez minutos depois, chegou lá e viu que se
tratava de um lampião. O que estaria fazendo um
lampião no meio de um bosque? Lúcia pensava no
que deveria fazer, quando ouviu uns pulinhos ligeiros
e leves que vinham na sua direção. De repente, à luz
do lampião, surgiu um tipo muito estranho.
Era um pouquinho mais alto do que Lúcia e
levava uma sombrinha branca. Da cintura para cima parecia um homem, mas as pernas eram de bode
(com pelos pretos e acetinados) e, em vez de pés,
tinha cascos de bode. Tinha também cauda, mas a
princípio Lúcia não notou, pois ela descansava
elegantemente sobre o braço que segurava a
sombrinha, para não se arrastar pela neve.
Trazia um cachecol vermelho de lã enrolado
no pescoço. Sua pele também era meio
avermelhada. A cara era estranha, mas simpática,
com uma barbicha pontuda e cabelos frisados, de
onde lhe saíam dois chifres, um de cada lado da testa.
Na outra mão carregava vários embrulhos de papel
pardo. Com todos aqueles pacotes e coberto de neve,
parecia que acabava de fazer suas compras de Natal.
Era um fauno. Quando viu Lúcia, ficou tão
espantado que deixou cair os embrulhos.
– Ora bolas! - exclamou o fauno.
[...]
LEWIS, C.S. Uma estranha descoberta.In: As Crônicas de
Nárnia .Tradução de Paulo Mendes Campos. São Paulo: Martins
Fontes, 2005. p.105-6. Volume único.
Em “Pulou para dentro e se meteu entre os casacos, deixando que eles lhe afagassem o rosto.” há uma figura de linguagem, denominada:
A) eufemismo.
B) hipérbole.
C) catacrese.
D) prosopopeia.
E) metonímia.
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