PortuguêsFlexão verbal de tempo (presente pretérito futuro)
- (FCC 2013)
Atenção: As questões de números 9 a 15 referem-se ao texto
seguinte.
Secretária
Procuro um documento de que preciso com urgência. Não o encontro, mas me demoro a decifrar minha própria letra, nas notas de um caderno esquecido que os misteriosos movimentos da papelada pelas minhas gavetas fizeram vir à tona. Isso é o que dá encanto ao costume da gente ter tudo desarrumado. Tenho uma secretária que é um gênio nesse sentido. Perdeu, outro dia, cinquenta páginas de uma tradução que tanto me custou.
Tem um extraordinário senso divinatório: rasga apenas o que é estritamente necessário guardar, mas conserva com rigoroso carinho o recibo da segunda prestação de um aparelho de rádio que comprei em S. Paulo em 1941. Isso fornece algumas emoções líricas inesperadas: quem não se comove de repente quando está procurando um aviso de banco e encontra uma conta de hotel de Teresina de quatro anos atrás, com a discriminação das despesas extraordinárias, inclusive uma garrafa de água mineral? Caio em estado de pureza e humildade: tomar uma água mineral em Teresina, num quarto de hotel, quatro anos atrás...
Há também papéis de visão amarga, que eu deveria ter rasgado dez anos atrás; mas a mão caprichosa de minha jovem secretária, que os preservou carinhosamente, não será a própria mão da consciência a me apontar esse remorso velho, a me dizer que devo lembrar o quanto posso ser inconsciente e egoísta? Seria melhor talvez esquecer isso; e tento me defender diante desses papéis velhos que me acusam do fundo do passado. Não, eu não fui mau; andava tonto; e pelo menos fui sincero...
Meus arquivos, na sua desordem, não revelam apenas a imaginação desordenada e o capricho estranho da minha secretária. Revelam a desarrumação mais profunda que não é de meus papéis, é da minha vida.
(Adaptado de Rubem Braga, O homem rouco )
O emprego e a flexão dos verbos estão plenamente adequados na frase:
A) Os que já se detiveram diante de velhos papéis e com eles se entreteram haverão de compreender os sentimentos do autor do texto.
B) O cronista requis nossa atenção para as revelações que lhe surgiram à medida que se ia deparando com remotos documentos.
C) Uma vez evocado seu interesse pelos velhos papéis que a secretária amealhara, o autor quase não contera o espanto de tantas revelações.
D) Ninguém quererá lembrar-se das decisões injustas, pois imergirá nos tormentos que a dolorosa culpa, fortalecida, sempre reconstitui.
E) A secretária não se propora a colocar os papéis em ordem, pois de tal modo os organizara que apenas os documentos desimportantes logo transpareciam.
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