PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (5)
- (LEGALLE Concursos 2015)
Não é o fim do mundo
Não será surpresa para quem tem alguma
familiaridade com a história econômica mundial
reconhecer que todos os países (todos!)
enfrentam, de tempo em tempo, a necessidade de
fazer "ajustes" fiscais, ou seja, compatibilizar a
receita do Estado com as suas despesas. A razão
disso é simples. À medida que diminui a lembrança
da "crise" anterior, as sociedades vão esquecendo
a verdade elementar de que o Estado não cria
recursos. Ao contrário, consome uma parte deles.
O lado otimista desse processo é que ele se repete.
Logo, não é terminal, as economias em geral
voltam à ordem fiscal e ao crescimento, depois do
sacrifício.
No caso concreto do Brasil, que, obviamente, não
haveria de ser uma exceção, a periódica
necessidade de "ajuste fiscal" devido ao excesso de
gastos vem de muito longe. Pedro II, ao receber a
maioridade (24 de julho de 1840) jurou, na sua
ingenuidade juvenil: "Procurarei corresponder à
vossa solicitude, fazendo com que a despeza
pública seja administrada, em todos os seus
ramos, com a mais severa economia". Há 175 anos
nosso problema já era a "despeza"!
Depois da solene promessa real, autoridades
menores juraram dezenas de vezes na mesma
direção. Juras nunca honradas. Aos primeiros
sinais de alívio, em geral produzidos por eventos
aleatórios, não resistimos à tentação de esquecê-
las.
O fato é que no longo interregno de 1840-2015, de
crise fiscal em crise fiscal chegamos a ser a sexta
economia do mundo e resolvemos dois problemas
que pareciam impossíveis: estabilizamos o valor da
moeda (com Itamar-FHC) e liquidamos a dívida
externa do Estado (com Lula). Infelizmente, ao
longo do 2011-2014 crescemos apenas 2,1% ao
ano, ante um crescimento mundial de 3,4%. Em
2014 produzimos, conscientemente, um
desequilíbrio fiscal, cuja correção não pode ser
adiada sob pena de suas consequências serem
dramáticas. Ela é condição necessária, ainda que
não suficiente, para a volta do crescimento
econômico e do bem-estar do brasileiro.
O que a Economia pode nos ensinar sobre a
qualidade dos ajustes fiscais? Em primeiro lugar, é
preciso entender que é pura "lenda urbana" o tal "ajuste" profundo e "crível" nas despesas que
produz a volta instantânea da confiança de
trabalhadores e empresários e leva ao
crescimento. Trata-se de uma "petição de
princípio". Supõe o que se deseja provar. Há coisas
menos prosaicas e que aprendemos na
implantação do Plano Real. Ele conseguiu capturar
a confiança da sociedade com a transparência
absoluta dos caminhos que seguiria. Ao contrário
dos velhos "pacotes" não antecipados, com
medidas escondidas que seriam reveladas ao longo
de sua aplicação, apresentou-se a estrutura geral
do programa e descreveram-se as medidas
futuras. Quando vimos os consumidores
comprando berinjelas em URVs, aprendemos que
a "transparência" e a "clareza do futuro" são
condições essenciais para o sucesso de qualquer
programa econômico. Nesse sentido o atual
"ajuste" ainda está incompleto. Não sabemos até
agora (a despeito do apoio firme de Dilma e da
vontade férrea de Levy) como atingiremos a
"métrica" de sucesso que ele mesmo construiu: um
superávit primário de 1,2% do PIB. Mesmo que
aritmeticamente insuficiente, ele terá um poder de
contágio enorme na ampliação da confiança
nacional.
Os estudos empíricos de dezenas de programas de
"ajuste fiscal" mostram que: 1. Eles tendem a ser
mais bem-sucedidos quando a ênfase é maior no
corte das despesas do que no aumento da receita,
principalmente no que se refere à confiança dos
consumidores. 2. O mesmo ocorre com a
recuperação da confiança dos empresários, mas
esta aparentemente lhes responde com menor
intensidade. 3. A "qualidade" do corte das
despesas e, mais ainda, a do aumento dos
impostos, é muito importante. 4. A expectativa do
controle da relação Dívida Bruta/PIB tem um efeito
positivo na redução da taxa de juros real da
economia, e é importante ingrediente.
Tudo que se sabe empiricamente recomenda que,
quanto mais cedo for possível especificar
claramente o que faremos com a receita e com a
despesa públicas, mais rápida será a recuperação
da confiança dos consumidores e investidores e
maior a probabilidade de sucesso. O tempo
econômico está a exigir uma aceleração do tempo
político, mas não estamos perto do fim do mundo.
Disponível em:<http://www. cartacapital. com. br/revista/845/nao-e-ofim- do-mundo-364.html> Acesso: 19/04/15 (Texto Adaptado).
O texto, no sentido geral, aborda principalmente a
A) crise econômica enfrentada pelo Brasil atualmente.
B) perspectiva futura para a economia do Brasil.
C) visão negativa do autor em relação à situação atual do Brasil.
D) retrospectiva histórica sobre a situação econômica do Brasil.
E) as políticas públicas para recuperara economia do Brasil.
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