PortuguêsProblemas da língua culta
- (UFMT 2022)
O primeiro cigarro a gente não esquece
Diz uma propaganda que o primeiro sutiã a gente não esquece (não esquece quem o veste e não
esquece quem o tira). O mesmo pode ser dito, e por razões semelhantes, em relação ao cigarro. É uma
experiência em geral precoce – e marcante. Como no caso do sutiã, tem um pouco do delicioso sabor da
transgressão.
Delicioso sabor, disse eu? Disse-o mal. Poucas coisas são tão repugnantes quanto o primeiro cigarro.
É uma experiência penosa para dizer o mínimo. Nós nos engasgamos com a fumaça, ficamos tontos,
nauseados, às vezes vomitamos as tripas. Ou seja: o nosso organismo não aceita a introdução das substâncias
estranhas, e perigosas, que entram na composição do cigarro. Não faça isso, diz nosso organismo, você está
correndo riscos.
Mas nós não escutamos a voz do corpo. Nós perseveramos. Vamos ao segundo cigarro, ao terceiro,
ao décimo, ao centésimo. E lá pelas tantas o organismo dá-se por vencido e deixa-se aprisionar. Mais um
escravo do tabaco surge.
[...] O primeiro cigarro é o nosso ingresso no mundo dos adultos, o mundo da pretensa sofisticação. É
pois uma vitória da cultura sobre a biologia. Cultura no sentido antropológico, bem-entendido, no sentido de
costumes de determinados grupos.
[...]
Muitos tratamentos foram bolados para fazer com que as pessoas deixem o tabagismo. Um deles é a
terapia da aversão. Consiste em fazer as pessoas fumarem um cigarro atrás do outro a fim de sentirem um
mal-estar semelhante àquele induzido pela primeira tragada. Ou seja: trazer de volta a criança que temos
dentro de nós, agora mais sábia e alerta. Essa criança garantirá que o primeiro cigarro a gente não esquece.
Principalmente se ela for agora um adulto com câncer de pulmão.
(SCLIAR, Moacyr. A face oculta – inusitadas e reveladoras histórias da medicina. Porto Alegre: Artes e ofícios, 2010.)
Sobre a palavra mal, no trecho Disse-o mal., assinale a afirmativa correta
A) Classifica-se gramaticalmente como adjetivo, é antônima de bom e homófona de mau.
B) Pode ser considerada um substantivo, está precedida por artigo e admite pluralização.
C) Classifica-se gramaticalmente como advérbio, não sofre flexão de número e tem como antônimo bem.
D) A grafia deveria ser mau, pois ruim é seu significado, podendo ser pluralizada.
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