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PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (25)


EXERCÍCIOS - Exercício 93

  • (Avança SP 2022)

Laços de Família
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.
LISPECTOR, Clarice. Laços de Família . Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 19. Fragmento.

O que retrata a narrativa do texto acima?


A) Retrata rotina fatigante de uma dona de casa.

B) Retrata a lembrança de uma mãe cansada por ter que cuidar dos filhos que “exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos”.

C) Retrata a vida de uma mulher que experimenta no cotidiano uma epifania que a conduz a refletir sobre si mesma e sobre o mundo.

D) Retrata a história de uma mulher, Ana, que, feliz com sua vida, “num suspiro de meia satisfação”, coloca-se a narrar cenas do seu cotidiano.

E) Retrata a rotina monótona de uma dona de casa que sai do trabalho, faz compras, pega o bonde para voltar para casa, cuida dos filhos e põe-se a pensar no fastio de uma vida sem nada de extraordinário.


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