PortuguêsNoções gerais de compreensão e interpretação de texto (22)
- (INSTITUTO MAIS 2021)
Leia o texto abaixo para responder à questão.
Quando alguém lhe disser que você não sabe o que diz, o
melhor é concordar. Eu concordo sempre, pois também conheço
as armadilhas que as palavras montam.
Por exemplo, quando digo que determinado acontecimento
foi auspicioso, estou a falar em pássaros. A palavra auspício vem
da expressão latina “avis spicium”, ou seja, contemplar as aves,
por causa de um antigo método de prever o futuro. Se digo que
montei um alarme residencial, revelo o meu caráter belicista, pois
a palavra alarme deriva da locução italiana “all’arme”, que é um
apelo às armas.
A expressão que, sem o sabermos, mais nos ensina é o
“pomo da discórdia”. Quando descobri que a palavra pomo
designa um fruto, a minha vida mudou. Nos restaurantes, na hora
da sobremesa, pergunto sempre se há pomos. Os empregados,
em regra, ficam alarmados. O que não auspicia nada de bom
para a minha refeição.
O “pomo da discórdia” original era uma maçã. Eris, a deusa
da discórdia, não foi convidada para o casamento de Peleu e
Tétis. Mesmo assim, apareceu na boda e deixou uma maçã de
ouro com uma nota: “Para a mais bela da festa”.
As deusas Hera, Atena e Afrodite pediram a Zeus que
decidisse qual delas era a mais bela. Zeus entregou a missão a
Páris. Para convencer Páris a dar-lhe o prêmio, cada deusa
prometeu-lhe um presente. Hera disse que o faria rei da Europa
e da Ásia, Atena ofereceu-lhe sabedoria, e Afrodite jurou
entregar-lhe o amor de Helena de Troia.
Páris deu a vitória a Afrodite, seduziu Helena e deu origem
a uma guerra de dez anos. É uma história estranha por várias
razões: não ser convidado para casamento é uma benção e, no
entanto, Eris ficou magoada; três deusas competem por uma
maçã de ouro, uma peça de decoração brega que não fica bem
em casa nenhuma. Zeus, mesmo sendo o todo-poderoso, sabe
que não é prudente ser jurado em concursos de beleza. Páris,
podendo escolher capacidades que lhe garantiriam várias
mulheres, opta por ter apenas uma.
Pessoalmente, discordo do pomo da discórdia.
(PEREIRA, Ricardo Araújo. O pomo da discórdia. Folha de São Paulo,
09.02.2020. Adaptado).
Ao confessar “conheço as armadilhas que as palavras montam”, o autor pretende dizer que
A) não se deve confiar naquilo que as pessoas falam, uma vez que as palavras possuem sentido ambíguo, podendo fazer o homem vítima de seu engodo.
B) as palavras possuem uma literalidade que permite ao homem compreender sua inteligibilidade imediatamente, sem necessitar de um dicionário de arcaísmos.
C) nosso vocabulário é eurocêntrico, pois revela a origem europeia de nossa língua e o quanto que estamos ligados, linguisticamente, àquele continente.
D) as palavras possuem um sentido mais amplo do que aquele que normalmente lhes atribuíamos, sendo que, compreendidas em sua origem, elas podem gerar mal-entendidos.
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