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- (NUCEPE 2020)
O pensamento moderno ocidental é um pensamento abissal. Consiste num sistema de distinções visíveis e invisíveis, sendo que as invisíveis fundamentam as visíveis. As distinções invisíveis são estabelecidas através de linhas radicais que dividem a realidade social em dois universos distintos: o universo ‘deste lado da linha’ e o universo ‘do outro lado da linha’. A divisão é tal, que o ‘outro lado da linha’ desaparece enquanto realidade; torna-se inexistente, e é mesmo produzido como inexistente. Inexistência significa não existir sob qualquer forma de ser relevante ou compreensível. Tudo aquilo que é produzido como inexistente é excluído de forma radical porque permanece exterior ao universo que a própria concepção aceita de inclusão considera como sendo o Outro. (DOS SANTOS, Boaventura e MENESES, Maria Paula. Epistemologia do Sul. São Paulo: Cortez, 2010, p.31-32).
Para Boaventura dos Santos e Maria Paula Meneses, a existência das linhas abissais por todo o período moderno não significa que elas tenham permanecido fixas. Nos dias atuais, as linhas globais que dividem os dois lados podem ser observadas
A) em políticas antiterroristas, a exemplo dos serviços secretos e legislações de segurança nacional, desenvolvidas com objetivo de evitar a presença física ou a simples ameaça dos possíveis inimigos nas grandes metrópoles.
B) na presença dos imigrantes que se encontram em condição legalmente regulamentada, e que por essa situação podem integrar as redes formais do mercado e da sociedade global.
C) nos refugiados, que, por razões diversas, optam por se integrarem à clandestinidade da população de uma grande metrópole, desconsiderando sua política de acolhimento internacional, para os casos legalmente previstos.
D) nas circunstâncias atuais, em que o novo “colonial”, por desenvolver suas experiências de vida correndo do outro lado da linha, apresenta uma mobilidade reduzida, contrapondo-se à ampliação do espaço abissal do metropolitano.
E) na cartografia atual, onde a regulação/emancipação que define o outro lado da linha vai se fortalecendo com a reação dos invisíveis, ocorrendo uma desfiguração da apropriação/violência, pressionada pelos que ocupam esse lado da linha.
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