PsicologiaTeorias e técnicas psicoterápicas
- (FAUEL 2019)
Partindo da constatação de que psicanálise e ética são disciplinas distintas, mas que há entre elas um importante campo de intersecção há uma grande diversidade de modelos metapsicológicos existentes na psicanálise que produziu não só diferenças na abordagem teórica da questão da ética e da consciência moral, mas também nos objetivos clínicos de cada uma dessas correntes, por meio de um esforço de sistematização do discurso de ambas. Sobre os autores que determinaram a corrente psicanalítica e a intersecção da ética, é INCORRETO afirmar que:
A) Segundo Wilhelm Reich a relação entre clínica e moral pode ser reconhecida, sobretudo por meio do processo de autoconhecimento, resultado esperável para qualquer análise. Para ele, há uma mistura problemática entre o que é demandado de mim pelo outro e o que eu mesmo demando de mim. Nesse sentido, o autoconhecimento significa não apenas se descobrir como agente de valorização moral, mas também distinguir quais são seus próprios imperativos e quais são os dos outros. Segundo esse autor, reconhecermo-nos como agentes da moral e formadores de imperativos são dinamicamente tão relevantes para a personalidade e para o direcionamento de nossa ação quanto reconhecer os objetivos de nossas pulsões e das funções do ego.
B) Para Freud (1939), a ética se justifica pela necessidade de se delimitar os direitos da sociedade contra o indivíduo, os direitos do indivíduo contra a sociedade e os direitos dos indivíduos uns contra os outros. É verdade que Freud (1912-13) admite que o mito do assassinato do pai primevo não precisa ter sido um acontecimento real, pois o desejo e o temor de matá-lo (no Édipo) já são suficientes para que a consciência moral no indivíduo seja instalada. Entretanto, o que importa destacar aqui é que a capacidade de pensamento antecipa as consequências do ato, dispensando sua realização; contudo, o que está em jogo é uma consideração a respeito do outro externo e real, uma consideração que não é de todo desinteressada, pois já se reconhece o quanto o outro é importante para a sobrevivência de si mesmo.
C) Para Klein as relações éticas e a consciência moral surgem de uma necessidade interna e pulsional, revelando um pensamento fortemente inatista. Nesse sentido, a principal implicação clínica da reflexão de Klein acerca da ética e da moral é a importância atribuída à passagem da posição depressiva, que, além de ser parte do desenvolvimento do psiquismo, é objetivo do processo terapêutico e está intimamente implicado no surgimento da ‘consciência moral propriamente dita’.
D) O sujeito, para Lacan, se define pela estrutura simbólica, sendo efeito da linguagem. O sujeito é dito barrado na medida em que a linguagem não dá conta de simbolizar tudo. Essa impossibilidade de simbolização total coloca a falta como inerente e estrutural ao sujeito. Por mais que o sujeito encontre objetos que lhe pareçam responder ao seu desejo – isso será por um momento extremamente fugaz –, haverá sempre um resto não satisfeito, uma falta extremamente importante para o sujeito, pois é o que o mantém vivo e se mexendo sempre em busca de algo que o complete. Nesse sentido, Lacan (1959- 60) afirma que “tudo o que existe vive senão na falta-a-ser”, o que ele introduz de novo no campo da ética é a atenção à barreira que existe em relação à Coisa e ao desejo, a inacessibilidade do objeto enquanto objeto de gozo. A partir da discussão acerca da inacessibilidade da Coisa, Lacan conclui que o “Bem Supremo”, tão almejado na ética filosófica e pela sociedade em geral, não existe, e que nenhum outro bem pode equivaler à Coisa, a qual, além de proibida, é perdida.
Próximo:
EXERCÍCIOS - Exercício 238
Vamos para o Anterior: Exercício 236
Tente Este: Exercício 198
Primeiro: Exercício 1
VOLTAR ao índice: Psicologia