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PortuguêsInterpretação de textos


EXERCÍCIOS - Exercício 299

  • (IPEFAE 2019)

Texto para a questão.

Leia, abaixo, uma delicada carta do escritor Caio Fernando Abreu aos pais:

A Nair e Zaél Abreu

São Paulo, 12 de agosto de 1987

Querida mãe, querido pai,

Não sei mais conviver com as pessoas. Tenho medo de uma casa cheia de pais e mães e irmãos e sobrinhos e cunhados e cunhadas. Tenho vivido tão só durante tantos — quase quarenta — anos. Devo estar acostumado.

Dormir 24 horas foi a maneira mais delicada que encontrei de não perturbar o equilíbrio de vocês — que é muito delicado. E também de não perturbar o meu próprio equilíbrio — que é tão ou mais delicado.

Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como “eu gosto de você”. Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida — como quem olha de uma janela — mas não consegue vivê-la.

Amo vocês como quem escreve para uma ficção: sem conseguir dizer nem mostrar isso. O que sobra é o áspero do gesto, é a secura da palavra. Por trás disso, há muito amor. Amor louco — todas as pessoas são loucas, inclusive nós; amor encabulado — nós, da fronteira com a Argentina, somos especialmente encabulados. Mas amor de verdade. Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto.

Amo vocês,

seu filho

Caio

Caio Fernando Abreu, no livro “Caio Fernando Abreu: o essencial da
década de 1980”. Nova Fronteira, 2014

Em “Não sei mais conviver com as pessoas” , o termo em destaque, considerando o contexto, estabelece ideia de que o autor:


A) Conseguia, anteriormente, estabelecer convívio social, e de que isso não ocorre mais.

B) Nunca conseguiu estabelecer convívio social, o que se confirma no corpo da carta aos pais.

C) Não convive com as pessoas com frequência, mas trava, dentro de si, uma luta para que isso ocorra.

D) Sente falta das pessoas com quem ele conviva, e isso faz com que ele busque ajuda dos pais para que as amarras sejam rompidas.


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