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PortuguêsInterpretação de textos (5)


EXERCÍCIOS - Exercício 222

  • (VUNESP 2014)

Leia o texto para responder a questão.
Sondagem
O carteiro, conversador amável, não gosta de livros. Tornam  pesada a carga matinal, que, na sua opinião, devia constituir-se  apenas de cartas. – No máximo algum jornalzinho leve, mas esses pacotes e mais pacotes que o senhor recebe, ler tudo isso  deve ser de morte!
Explico-lhe que não é preciso ler tudo isso, e ele muito se   admira:
– Então o senhor guarda sem ler? E como é que sabe o que  tem no miolo?
Esclareço que não leio de ponta a ponta, mas sempre leio  algumas páginas.
– Com o devido respeito, mas quem lhe mandou o livro desejava que o senhor lesse tudinho.
– Bem, Teodorico, faz-se o possível, mas...
– Eu sei, eu sei. O senhor não tem tempo.
– É.
– Mas quem escreveu, coitado! Esse perdeu o seu latim,  como se diz.
– Será que perdeu? Teve satisfação em escrever, esvaziou a  alma.
A ideia de que escrever é esvaziar a alma perturbou meu  carteiro, tanto quanto percebo em seu rosto magro e sulcado.
– Não leva a mal?
– Não levo a mal o quê?
– Eu lhe dizer que nesse caso carece prestar mais atenção  ainda nos livros, muito mais! Se um cidadão vem à sua casa e  pede licença para contar um desgosto de família, uma dor forte,  dor-de-cotovelo, vamos dizer assim, será que o senhor não escutava o lacrimal dele?
– Teodorico, nem todo livro representa uma confissão do  autor. E depois, no caso de ter uma dor moral, escrevendo o livro  o camarada desabafa, entende? Pouco importa que seja lido ou
não, isso é outra coisa.
Ficou pensativo; à procura de argumento? Enquanto isso, eu  meditava a curiosidade de um carteiro que se queixa de carregar  muitos livros e ao mesmo tempo reprova que outros não os leiam integralmente.
– Tem razão. Não adianta mesmo escrever.
– Como não adianta? Lava o espírito.
– No meu fraco raciocínio, uma coisa nunca acontece sozinha nem acaba sozinha. Se a pessoa, vamos dizer, eu, só para  armar um exemplo, se eu escrevo um livro, deve existir um outro
– o senhor, numa hipótese – para receber e ler esse livro. Mas se  o senhor não liga a mínima, foi besteira eu fazer esse esforço.
– Teodorico! você... escreveu um livro?
Virou o rosto.
– De poesia, mas agora não adianta eu lhe oferecer um  exemplar. Até segunda, bom domingo para o senhor.
– Escute aqui, Teodorico...
– Bem, já que o senhor insiste, aqui está o seu volume, não  repare os defeitos, ouviu? Esvaziei bastante a alma, tudo não era  possível!

(Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida . 1959. Adaptado)


É correto concluir que o carteiro, Teodorico, conduz a conversa com o intuito de


A) convencer o narrador a doar os livros que não pretende ler integralmente.

B) contar ao narrador que carteiros também são capazes de ler livros.

C) certificar-se de que o narrador irá ler seu (de Teodorico) livro de poesia.

D) mostrar ao narrador que é importante comprar livros de poesia.

E) persuadir o narrador a comprar os livros de poesia que ele (Teodorico) escreveu.


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