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EXERCÍCIOS - Exercício 29

  • (FUNCAB 2016)

O encontro

Maria da Piedade Lourenço era uma mulher miúda e nervosa, com uma cabeleira pardacenta, malcuidada, erguida, como uma crista, no alto da cabeça. Ludo não conseguia distinguir-lhe os pormenores do rosto. Todavia, deu pela crista. Parece uma galinha, pensou, e logo se arrepende por ter pensado aquilo. Andara nervosíssima nos dias que antecederam a chegada da filha. Quando esta lhe surgiu à frente, porém, veio-lhe uma grande calma. Mandou-a entrar. A sala estava agora pintada e arranjada, soalho novo, portas novas, tudo isso às custas do vizinho, Arnaldo Cruz, que também fizera questão de oferecer as mobílias. Comprara o apartamento a Ludo, concedendo-lhe o usufruto vitalício do mesmo, e comprometendo-se a pagar os estudos de Sabalu até este concluir a universidade.

A mulher entrou. Sentou-se numa das cadeiras, tensa, agarrada à bolsa como a uma boia de salvação. Sabalu foi buscar chá e biscoitos.

Não sei como a hei de chamar.

Pode chamar-me Ludovica, é o meu nome.

Um dia poderei chamá-la mãe?

Ludo apertou as mãos de encontro ao ventre. Podia ver, através das janelas, os ramos mais altos da mulemba. Nenhuma brisa os inquietava.

Sei que não tenho desculpa, murmurou: Era muito nova, e estava assustada. Isso não justifica o que fiz.

Maria da Piedade arrastou a cadeira para junto dela. Pousou a mão direita no seu joelho:

Não vim a Luanda para cobrar nada. Vim para a conhecer. Quero levá-la de volta para a nossa terra.

Ludo segurou-lhe a mão:

Filha, esta é a minha terra. Já não me resta outra.

Apontou para a mulemba:

Tenho visto crescer aquela árvore. Ela viu-me envelhecer a mim.

Conversamos muito.

A senhora há de ter família em Aveiro.

Família?!

Família, amigos, eu sei lá.

Ludo sorriu para Sabalu, que assistia a tudo, muito atento, enterrado num dos sofás:

A minha família é esse menino, a mulemba lá fora, o fantasma de um cão. Vejo cada vez pior. Um oftalmologista, amigo do meu vizinho, esteve aqui em casa, a observar-me. Disse-me que nunca perderei a vista por completo. Resta-me a visão periférica. Hei de sempre distinguir a luz, e a luz neste país é uma festa. Em todo o caso, não pretendo mais: A luz, Sabalu a ler para mim, e a alegria de uma romã todos os dias.

AGUALUSA, José Eduardo. Teoria Geral do Esquecimento . Rio de Janeiro: Foz, 2012.


“Quando ESTA lhe surgiu à frente, porém, veio-lhe uma grande calma.”

O uso da forma destacada do demonstrativo, no contexto, se justifica em razão de:




A) marcar um tempo atual ao ato da fala.

B) referir-se aos termos que destacam o emissor.

C) fazer referência ao que se vai dizer, no interior do discurso.

D) estabelecer referência com o elemento antecedente mais próximo.

E) introduzir o que vai ser dito posteriormente.


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